Quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Por Gastão Reis | 14 de outubro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Ao longo do tempo, diversas pesquisas comprovam o fato de a sociedade brasileira ser conservadora em sua maioria. Seria de se esperar que os partidos políticos espelhassem essa estrutura social. Desde 1985, com o fim da ditadura militar, não foi bem isso que aconteceu. O fim do bipartidarismo a fórceps, ARENA e MDB, levou ao surgimento de partidos como o PSDB e PT, ambos de esquerda. Eles se alternaram no poder com uma agenda em que o peso de Estado foi muito além do necessário.
Após Sarney, Collor e Itamar, o PSDB conseguiu eleger FHC, que assumiu o poder, em 1995, colhendo os louros do sucesso do Plano Real, em 1994, período em que ele era ministro da Fazenda. Já vínhamos da década perdida de 1980, que foi dando filhotes nas décadas seguintes. Ou seja, o crescimento medíocre da renda real per capita se manteve em torno de 1% ou menos, quase empatando com a taxa de crescimento demográfico.
Não há muito mistério no que acabou ocorrendo ao longo dessas décadas até hoje. A baixa taxa de investimento global oscilou entre 16 e 18% do PIB, percentual bem abaixo dos 25% imprescindíveis para avançar em direção ao crescimento sustentado. Empacamos na armadilha da renda média. Aqueles países que não conseguem se ombrear com o crescimento do resto do mundo ou superá-lo. Ou seja, perdem posição relativa face aos demais.
Um quadro mais amplo nos é fornecido pelo livro “Ficando Para Trás – Explicando a crescente distância entre a América Latina e Estados Unidos”, editado por Francis Fukuyama, e publicado pela Editora Rocco (2010). Os ensaios e artigos do livro são bem fundamentados. Um deles, do próprio Fukuyama, questiona se foram as instituições falhas que pesaram na balança. Não foi o caso brasileiro até 1889. A partir deste ano, é que teve início o desmonte institucional brasileiro, que piorou muito com a Carta de 1988, na visão não só de Roberto Campos.
O revezamento no poder entre PSDB e PT parece ter levado o País a um processo de subinvestimento crônico, que impediu seu crescimento sustentado. A prova concreta foi a queda brutal do investimento público, que chegou a ser de 10% do PIB no passado para apenas 2%. A isso se somou uma carga tributária asfixiante que castrou a capacidade de investimento do setor privado em geral, em especial da indústria de transformação. Só escapou o agronegócio protegido por sua bancada de 200 deputados federais que mantiveram sua carga tributária em torno de 6%. E juros decentes de fomento à produção agrícola.
Na esfera política, a esquerda se apropriou das estruturas partidárias e conseguiu eleger presidentes e bancadas legislativas sem deixar espaços para a força política que a bancada conservadora deveria ter face à composição social do país. O festival de direitos sem respaldo na economia completou o serviço de travamento do processo de desenvolvimento, agravado pela falta de controle dos eleitores sobre seus representantes e pelo sistema de votação proporcional considerado o pior deles por cientistas políticos.
A boa notícia é que, nas eleições de 2022, a bancada conservadora passou a ter peso político significativo no Congresso Nacional, neutralizando as principais tentativas de retrocessos oriundas da presidência da república.
Gastão Reis é economista e palestrante
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.