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O pesadelo de David Ricardo

Além dos efeitos nos mercados, o tarifaço imposto por Donald Trump no início de abril certamente fez David Ricardo se revirar no túmulo. (Foto: WH/Divulgação)

Além dos efeitos nos mercados, o tarifaço imposto por Donald Trump no início de abril certamente fez David Ricardo se revirar no túmulo. Afinal, foi ele quem, há mais de dois séculos, formulou o princípio da vantagem comparativa, base do livre-comércio. A vantagem comparativa mostra que, mesmo quando um país é mais eficiente em tudo, ele ainda pode se beneficiar da troca com outros. Em um exemplo didático: embora os Estados Unidos também sejam capazes de produzir soja, para isso teriam que abrir mão da produção de chips e computadores — produtos com valor agregado maior. Já o Brasil, por outro lado, é altamente eficiente na produção de soja.

Portanto, é mais vantajoso para ambos que os EUA se concentrem em tecnologia e comprem soja do Brasil, em vez de produzirem tudo por conta própria. Interferir no delicado balanço do livre mercado gera ineficiências, e, invariavelmente, o consumidor final é quem paga a conta, seja por meio do aumento de preços, seja pela queda na qualidade dos produtos que, agora, são produzidos nacionalmente ou por países parceiros, mas menos qualificados.

Todavia, é importante reconhecer a posição em que os Estados Unidos se encontravam antes da imposição do tarifaço. Esclarecendo esse ponto, no dia 3 de abril de 2025, a Casa Branca publicou um relatório destacando que as tarifas médias aplicadas sobre importações nos EUA eram de 3,3%. Em contraste, os produtos americanos enfrentavam tarifas significativamente mais altas em outros mercados: 5% na União Europeia, 7,5% na China e 11,2% no Brasil. O desequilíbrio existe, e a administração Trump parece estar determinada a corrigi-lo.

Alguns defendem que o tarifaço é uma arma de negociação, obrigando as potências mundiais a negociarem esse e demais temas com os Estados Unidos. Outros defendem que o pesadelo de David Ricardo pode estar se tornando realidade e que o país símbolo do capitalismo acaba de entrar em uma era protecionista, fechando sua economia e machucando seus consumidores e parceiros comerciais.

A princípio, nesta guerra de gigantes, o Brasil pode estar bem posicionado. Por termos recebido a alíquota recíproca mínima de 10%, nos tornamos mais competitivos frente a outros países menos favorecidos por essa política. Se seremos capazes de aproveitar essa oportunidade, só o tempo dirá.

Pedro Saraiva, associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

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