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O poder do fracasso: especialistas defendem a importância de lidar com as falhas para construir vitórias

Educação para aprender a vencer e, principalmente, a perder é importante no esporte e na vida. (Crédito: Reprodução)

A reação negativa diante da derrota, comum à maioria das pessoas, precisa ser revista, segundo especialistas. É necessário encarar as falhas e contar abertamente histórias de fracasso. O ato, garantem, pode ser um catalisador de sucessos futuros. A aversão ao fracasso na rotina das pessoas chamou a atenção da pesquisadora americana Brené Brown, que lançou o livro “Mais Forte do que Nunca – Caia. Levante-se. Tente Outra Vez”. Na publicação, Brené destaca a importância de relatar os percalços vividos até a conquista de um objetivo. A escritora critica a tendência de esconder as histórias de insucesso e defende que falar sobre elas pode nos tornar mais fortes.

Atletas como Diego Hypolito e Fabiana Murer engrossam a fila dos que viveram a dor do fracasso em um momento de alta expectativa. Favorita nos Jogos de 2012, em Londres, na Inglaterra, a saltadora acabou sendo eliminada no início da competição daquele ano. “No esporte não é possível só vencer, a derrota faz tão parte quanto o próprio treinamento. É preciso educar o atleta para essa situação do vencer e do perder”, comenta a especialista em psicologia do esporte, Kátia Rubio, que explica ainda que a dificuldade em lidar com o fracasso não é restrita aos esportistas. “Não vejo diferença do atleta para qualquer profissional que trabalhe com metas. Todos vivem essa pressão. O medo do fracasso é um sentimento que vem junto com as pessoas.”

Assim como os tombos, a negação em aceitá-los também começa cedo. Na escola, as notas baixas em uma disciplina fazem com que os jovens, em vez de encará-la, passem a evitá-la. Para a especialista em educação Andrea Ramal, o rechaço ao fracasso é impulsionado pelos pais: “É importantíssimo aprender a lidar com a falha. Tenho preocupação com pais que colocam o filho em uma redoma, tentando mascarar os fracassos da criança. As vitórias são construídas com esforços. Pelo fato de a escola não saber trabalhar o fracasso, crianças passam a ter, por exemplo, aversão à matemática porque tiraram uma nota baixa e ouviram que não levam jeito para a disciplina”.

E a missão ficou pior com a explosão das redes sociais. A exposição de vidas perfeitas, onde as pessoas são plenamente felizes, valoriza uma realidade imune a fracassos. “As pessoas hoje escondem o fracasso e muitas vezes escondem o trabalho árduo por trás de um grande sucesso. Vivemos em um mundo rápido. É como se tudo acontecesse em um passe de mágica”, analisa a doutora em psicologia Monica Portella.

“Currículo de fracassos.”

Embora a sociedade contemporânea tenha ares de vitrine, há quem escolha exibir nela o que para o senso comum não é tão bonito assim. O professor Johannes Haushofer, da Universidade de Princeton (EUA), publicou em sua conta no Twitter um “Currículo de Fracassos”, uma extensa lista de bolsas às quais ele se candidatou e não conseguiu aprovação, vagas de trabalho que tentou, mas não foi contratado.

“A maior parte das coisas que tento falha, mas essas falhas são muitas vezes invisíveis, enquanto os sucessos são visíveis. Tenho notado que isso dá a impressão de que a maioria das coisas funciona para mim. Como resultado, as pessoas tendem a atribuir seus fracassos a si mesmos, ao invés de levar em conta o fato de que o mundo é estocástico, as seleções são jogos de sorte e as bancas examinadoras têm dias ruins”, escreveu Haushofer. Ele ainda adverte: se seu currículo de fracassos é curto, pode ser que sua memória esteja falhando. (AG)

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