Segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 27 de maio de 2015
A prisão do italiano Pasquale Scotti, 56 anos, apontado pela polícia italiana como um dos mafiosos mais procurados do país, continua dando o que falar. Sob o nome falso de Francisco de Castro Visconti, o criminoso viveu por quase 30 anos no Brasil. A prisão foi comemorada por autoridades italianas. “Um tiro surpreendente marcado por nossa equipe italiana junto com a valiosa cooperação da polícia do Brasil”, disse o ministro do Interior, Angelino Alfano.
Preso no Recife (PE) na terça-feira (26) por uma equipe da PF (Polícia Federal), o italiano foi levado para Brasília e encaminhado à carceragem da sede da PF, onde fica à disposição do STF (Supremo Tribunal Federal). Sua eventual extradição para a Itália passa a ser negociada entre o Ministério da Justiça, o Itamaraty e o governo da Itália.
Dado como morto.
Segundo autoridades italianas, Scotti foi chefe do “braço militar” de um grupo mafioso denominado Nova Camorra Organizada, de Nápoles, liderado por Raffaele Cutolo, que cumpre prisão perpétua. Scotti chegou a ser preso na Itália em 1983, mas escapou no ano seguinte. Desde então, não foi mais visto e chegou a ser dado como morto. A Itália atribui a ele a participação em 26 assassinatos, entre 1980 e 1983, além de crimes de extorsão, porte ilegal de armas e resistência. Em 2005, ele foi condenado à prisão perpétua na Itália.
Em depoimento à PF, Scotti afirmou que chegou ao Brasil por volta de 1986, adquiriu documentos falsos de um homem em Fortaleza (CE), “vagou por vários Estados” até que, em 1995 ou 1996, conheceu outro italiano no Recife, Roberto Pagnini, “um empresário aposentado que estava passeando no Brasil na condição de turista”.
Com ele abriu uma firma de importação de alimentos. Eles também passaram a administrar uma a boate Sampa Night Club, onde acontecem shows de strip-tease do Recife. O sócio majoritário era Pagnini, pai do atual proprietário, Francisco Pagnini, e que morreu em 2014. “Era uma pessoa muito inteligente, muito fechado, era ‘família’, não falava mal de ninguém, era muito respeitado e respeitava muito as pessoas. Quando vi a notícia [da prisão], fiquei muito chocado realmente”, disse Pagnini.
“Francisco” cuidava de compras e contas da casa noturna. Após um desentendimento com o parceiro comercial, Scotti deixou a boate e virou sócio de uma exportadora de alimentos enlatados, que faliu meses depois e de uma empresa de fogos de artifício e shows pirotécnicos.
Acusações.
Scotti disse à PF que, quando saiu da Itália, “estava sendo processado criminalmente, mas não havia condenação definitiva”. Afirmou não saber das acusações exatas. Segundo o chefe da Interpol no Brasil, o delegado da PF Valdecy Urquiza Júnior, o italiano instalou-se no Recife, onde conheceu uma mulher brasileira, com quem teve dois filhos, que hoje têm 10 e 15 anos de idade. Segundo Urquiza, ele “não ostentava riqueza, procurava se resguardar e não se apresentava muito em público”. No momento da prisão, o italiano disse à PF que “Pasquale Scotti não existia mais, eu sou só Francisco”. A PF disse não ter indícios de que a família soubesse de seus antecedentes criminosos.
A polícia brasileira chegou a Scotti a partir de informações obtidas pela Interpol italiana em fevereiro. Os detalhes foram compartilhados e, a partir disso, começou a caça. A investigação mirou pessoas e empresas de fachada e, a partir disso, localizou imóveis relacionados ao grupo e à primeira identidade dele.
A confirmação foi feita com a comparação das impressões digitais de um banco de dados italiano com o registro da identificação civil de “Francisco de Castro Visconti” em Pernambuco. (Folhapress)