O pré-candidato do PSOL a presidente, Guilherme Boulos, disse nesta terça (1º) lamentar o que chamou de “uso político” do desabamento de um prédio em São Paulo ocupado por pessoas sem-teto. Ele negou que a ocupação fosse do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), entidade que lidera.
“É uma tragédia o que aconteceu e é lamentável que tenha gente nas redes sociais querendo fazer uso político em cima de um incêndio, de um desabamento, de um ferimento e provavelmente de morte de pessoas”, disse a jornalistas em Curitiba, onde participou de ato pelo Dia do Trabalhador.
“Nossa solidariedade às famílias sem-teto que ocupavam o prédio que pegou fogo e desabou nesta madrugada. Exigimos agilidade nas buscas e na apreensão de alternativa de moradia para as famílias desabrigadas”, disse Boulos no Twitter.
Ele também contestou informações sobre eventual vinculação do MTST. “Ao contrário do que tem sido divulgado por parte da imprensa, a ocupação no edifício que desabou esta madrugada não era organizada pelo MTST, mas pelo movimento MLSM. Independente disso, reafirmamos nossa solidariedade às famílias atingidas e cobramos alternativa aos desabrigados”, afirmou.
Segundo Boulos, não se pode responsabilizar as famílias ocupantes pelo estado do prédio.
“Ninguém ocupa porque quer. As pessoas ocupam por completa falta de alternativa”, disse. “Se há que se responsabilizar alguém é o poder público, que não ofereceu política habitacional para aquele povo, que não assegurou, mesmo sabendo da ocupação e provavelmente dos riscos, condições melhores para as pessoas.”
Boulos disse que o fato de a ocupação não ter sido organizada pelo MTST “não muda em nada” a solidariedade do movimento às famílias. Segundo Boulos, o movimento está ajudando a arrecadar doações de alimentos e cobra das autoridades celeridade nas investigações das causas do desabamento e nas buscas, além de uma alternativa habitacional para os desabrigados.
Mais cedo, o ex-prefeito de São Paulo e pré-candidato ao governo do Estado João Doria (PSDB) disse que o prédio no centro de São Paulo que desabou após um incêndio era ocupado por uma “facção criminosa”, sem dar detalhes. “O prédio foi invadido e parte desta invasão financiada e ocupada por uma facção criminosa”, disse.
A afirmação foi feita durante visita do tucano à Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão Preto.
Críticas
O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, de 35 anos, quer se tornar o presidente da República mais novo da história do Brasil. Pré-candidato pelo PSOL, ele tem ao seu favor um movimento social de expressão e uma espécie de “unção” feita por Lula em seu último discurso antes de ser preso pela Polícia Federal, em São Bernardo do Campo, no último dia 7 de abril. Por outro lado, Boulos faz parte de um partido pequeno e não passa de 1% das intenções de voto segundo o último levantamento do instituto Datafolha.
Recentemente ele afirmou que é “impossível governar para toda a população brasileira” e que, caso eleito, combaterá os privilégios da população mais rica.
“O 1% dessa elite econômica, não acredito que eles considerem as políticas que nós defendemos boas para eles. No momento em que nós estamos e, numa sociedade dividida e polarizada, não é possível governar para todos. Nós queremos enfrentar interesses. Interesses poderosos. Nós queremos governar pelos 99%”, disse.
Com origem de classe média alta e filho de um dos principais infectologistas do País – o médico Marcos Boulos, coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde do governo de São Paulo -, Boulos disse que não teme que seus inimigos políticos o acusem de oportunismo por liderar um movimento sem-teto.
“Eu seria oportunista se eu tivesse enriquecido no movimento. É exatamente o contrário”, afirmou o pré-candidato. “Eu comecei minha militância com 15 anos de idade num movimento estudantil secundarista. Militei num movimento de juventude e fui percebendo que não era ali que eu queria estar porque me incomodava muito de ver muita gente apresentando soluções para o povo, falando em nome do povo, mas com muito pouca disposição de ouvir o povo, de estar junto com as pessoas”, disse Boulos.
O pré-candidato relatou ainda que em 2001, quando o MTST entrou na região metropolitana de São Paulo, estava iniciando formação em Filosofia. “Depois, completei ela, me formei, dei aula por alguns anos em escolas públicas nas periferias. Depois, me formei em Psicanálise, fiz mestrado em Psiquiatria, dou aula hoje também na Escola de Educação Permanente (ligada ao Hospital das Clínicas), além de escrever artigos. Escrevo hoje para a revista Carta Capital, escrevo para sites”, finalizou.