O candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, colocou em dúvida, na segunda-feira (30), a lisura do processo eleitoral de outubro. “As eleições, de qualquer forma, estão sob suspeição”, disse durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
O argumento, segundo ele, é que o sistema eletrônico de votação é suscetível a fraudes. O presidenciável criticou a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de anular dispositivo da lei eleitoral que previa a impressão do voto, após pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
“Eu lamento que a senhora Raquel Dodge tenha prestado um desserviço à sociedade há poucas semanas. Por intermédio de uma ação dela, o Supremo derrubou a possibilidade do voto impresso nessas eleições. Ou seja, vamos continuar sob a suspeição da fraude, e o voto é uma coisa sagrada da democracia”, afirmou.
Questionado sobre o motivo de disputar eleições que ele acredita serem passíveis de fraude, o político afirmou que não tinha outra escolha. “Qual outro caminho eu tenho, entregar para o PT ou para o PSDB? Eu vou estar na luta de qualquer maneira. Todos nós desconfiamos.”
Bolsonaro afirmou que sente que “tem mais votos que Lula”. “Eu sou recebido de uma forma completamente diferente do que o Lula foi em suas caravanas. E isso é em qualquer lugar que eu vá, em qualquer canto do Brasil. A aceitação é enorme para com o meu nome. O que o povo está vendo em mim é confiança, é credibilidade.”
Pesquisa realizada pelo Datafolha em junho mostra que o capitão reformado mantém a liderança na corrida presidencial nos cenários em que Lula está ausente, com 19% das preferências. Bolsonaro voltou a elogiar o regime militar, negando que tenha ocorrido um golpe em 1964. “Não foi golpe, golpe é quando é pé na porta”, disse o candidato, com o argumento de que o presidente derrubado, João Goulart, abandonou o País e que seu cargo foi declarado vago pelo Congresso na época.
Ao mesmo tempo, afirmou que a tortura, comum durante o período militar, é algo que “abomina”. Como vem fazendo, ele negou que seja homofóbico, racista e misógino. Também disse que recebe auxílio moradia da Câmara mesmo tendo apartamento próprio porque tem direito ao benefício.
Questionado sobre arquivos da ditadura, Bolsonaro respondeu que a questão deve ficar no passado e que a população carece de outras demandas. “É uma ferida que tem que ser cicatrizada. Esqueçam isso. O povo está sofrendo com desemprego, com mulheres sendo estupradas. Se eu chegar lá [na Presidência], é daqui para frente”, disse.
Na segunda-feira, o Ministério Público reabriu as investigações sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog. O caso foi retomado após a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenar o Brasil, no começo do mês, por não investigar e punir o crime ocorrido em 1975, durante a ditadura militar.