Somente quatro convidados ocupavam a sala de estar da residência oficial de Rodrigo Maia (DEM) momentos antes da votação que selaria o destino político de Michel Temer na quarta-feira (25). Ao contrário do habitual séquito que costuma desfrutar de café da manhã, almoço e jantar à sua mesa, o presidente da Câmara dos Deputados limitou sua audiência a um marqueteiro, um consultor e só dois deputados, ambos do PSDB.
Conversavam com desenvoltura sobre o projeto que hoje mais interessa à classe política: as eleições de 2018. Antes de abrir a sessão que sepultaria a segunda denúncia contra o presidente –por obstrução da Justiça e organização criminosa –, Maia conversou com os deputados Jutahy Júnior (PSDB-BA) e Carlos Sampaio (PSDB-SP), os dois contrários a Temer, e, por mais de uma hora, discutiu uma possível aliança para o próximo ano entre seu partido, o DEM, e o PSDB.
A avaliação ali foi consensual: com baixíssima popularidade e denunciado duas vezes pela Procuradoria-Geral da República, Temer se tornou “radioativo” na disputa de 2018 e, assim, o PMDB não estaria apto a compor um possível arco com tucanos e democratas.
Desde agosto, o presidente da Câmara tem se distanciado de Temer e articula o fortalecimento do DEM para conquistar uma fatia de centro-direita do eleitorado, que também interessa ao PMDB. A partir de agora, Maia faz um segundo e mais assertivo movimento sobre os tucanos, que hoje têm quatro ministérios e, apesar de divididos quanto ao apoio ao peemedebista, seguem como um pilar importante para o Planalto.
A ideia é que o DEM deixe de ser apêndice e se torne protagonista na aliança com o PSDB. O desejo de Maia para um candidato ideal à Presidência envolve paradoxos: liberal na economia e conservador nos costumes, com respeito às minorias.
Enquanto essa figura para o projeto nacional não aparece, Maia articula a aliança com o PSDB em dois Estados: Rio, onde quer lançar seu pai, Cesar Maia, ao governo, e Bahia, onde ACM Neto, prefeito de Salvador e seu aliado, deve se candidatar a Executivo estadual. Naquela quarta-feira, Maia, Jutahy e Sampaio falaram justamente sobre esses cenários, sob os comentários do publicitário Fernando Barros.
Pouco antes, o presidente da Câmara havia conversado com Adriano Pires, consultor do setor de energia. Maia anunciaria naquela noite seu desejo de votar o fim do regime de partilha do petróleo, em um movimento para estabelecer na Casa uma agenda paralela à do governo Temer.
O PSDB deve ser um aliado nesse esforço, no primeiro passo prático da aproximação entre tucanos e democratas para 2018. Há cerca de 15 dias, Maia se reuniu com o líder do partido na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), em um almoço, para elaborar uma proposta de atuação conjunta. As divisões internas do PSDB abriram um flanco para o fortalecimento do DEM nessa parceria.
Segundo dirigentes democratas, a fragilidade dos tucanos –em disputa interna pelo comando da sigla e pelo posicionamento no governo – permitirá a inversão de papéis na principal aliança de centro-direita para a próxima campanha.
Divórcio forçado
O Planalto também busca um candidato para disputar esse mesmo espaço – mas com disposição de defender o legado de Temer. Apesar do esforço em manter pelo menos uma ala do PSDB no governo, o presidente já desistiu de ter os tucanos como aliados no projeto para 2018.
Auxiliares de Temer tentam ser otimistas: mesmo com baixa popularidade (5%), o presidente tem como mostrar resultados na economia e participar de uma candidatura com a bandeira da continuidade. Dados como juros e inflação em baixa e diminuição do desemprego podem fazer o peemedebista, acreditam ministros, ser importante no apoio a um candidato.