Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 6 de novembro de 2018
Em tom de despedida, o presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, defendeu nesta terça-feira (6) a manutenção da política de preços dos combustíveis pelo governo Jair Bolsonaro e disse que mudanças nos processos de gestão da companhia seriam “muito mal recebidas pelo mercado”.
A equipe de Bolsonaro tem emitido sinais contraditórios com relação aos preços dos combustíveis. Enquanto o programa de governo falava sobre seguir as cotações internacionais, como a Petrobras faz atualmente, o presidenciável reclamou publicamente do aumento de preços em entrevistas e redes sociais.
“A gente acha que essa política é transparente, que dá previsibilidade ao mercado”, disse Monteiro, em entrevista para detalhar o lucro de R$ 6,6 bilhões da companhia no terceiro trimestre de 2018.
“Evidentemente que o novo governo tem liberdade para fazer alterações mas cabe a nós esclarecer sobre a relevância dessa política”, completou.
A fórmula atual de reajustes dos combustíveis foi iniciada em outubro de 2018, na gestão Pedro Parente, e tem como parâmetros as cotações internacionais, a taxa de câmbio e custos de importação dos produtos.
Passou a ser fortemente questionada com a escalada dos preços este ano, devido á alta do petróleo e do dólar.
Em entrevistas, o presidente eleito Jair Bolsonaro disse que os preços estão “no limite” e que tomaria medidas caso não parassem de subir. Questionado sobre as críticas nesta quinta, Monteiro defende que a política é um dos pilares que permitiu a recuperação da estatal nos últimos anos.
A estatal chegou a tentar blindar a política, incluindo no estatuto artigos que preveem indenização do governo em caso de prejuízos por decisões políticas. “Alteração disso pode ser feita? Pode. A gente só acha que haverá reação muito negativa do mercado, porque foram medidas que propiciaram a melhoria da governança da empresa”, afirmou, citando mudanças nos procedimentos de aprovação de investimentos.
Além da política de preços, o novo governo deverá lidar com os processos de vendas de refinarias de dutos que foram suspensos por liminar do STF (Supremo Tribunal Federal). A companhia já não conta com a conclusão desses processos em 2018.
Foram colocadas à venda participações de 60% em duas empresas de refino, que têm cada uma duas refinarias, dutos e terminais. Além disso, a estatal estava em fase final de venda da malha de gasodutos do Nordeste, em negociação com a francesa Engie.
A equipe econômica de Bolsonaro tem falado em ampliar o processo de privatizações nos setores de petróleo e energia, embora haja resistências da ala militar. Não há indicações sobre a manutenção do plano de desinvestimentos da Petrobras, que deve chegar ao fim de 2018 com um terço da arrecadação prevista de US$ 21 bilhões (R$ 78,7 bilhões, na cotação atual).
Monteiro disse que a gestão atual contribuirá com o processo de transição para o novo governo e que ainda não houve contatos para falar sobre mudanças na direção da companhia. “Estamos aguardando qual vai ser a orientação do novo governo, não tem nenhum tipo de articulação ou interação em relação a esse assunto”, afirmou.
Ele aproveitou a entrevista, porém, para fazer um balanço da gestão atual, que assumiu em 2015, ainda no governo Dilma Rousseff, com a missão imediata de calcular em balanço os prejuízos provocados pelo esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato.
“Foi a tempestade perfeita para a companhia”, disse ele, lembrando da perda da classificação de bom pagador de dívidas e dos investimentos que geraram prejuízos. “A gente tem agora companhia com toda a sua dívida reperfilada, toda a governança perfilada, com valor de mercado de R$ 385 bilhões”, completou dizendo que o resultado “deixa a gente muito orgulhoso”.
Ao fim da entrevista, em suas considerações finais, deixou “um abraço especial” aos jornalistas que cobrem a empresa “por todos esses anos”. “Se por vezes, não consigo responder exatamente o que vocês querem, não é nada pessoal”, concluiu.