Terça-feira, 01 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 29 de março de 2025
Para o Banco Central (BC), a taxa de inflação se aproximará do centro da meta de 3% fixada pelo governo somente depois do atual mandato, mais precisamente a partir do terceiro trimestre de 2027, para quando as projeções do banco apontam um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 3,1%. O atual presidente da instituição, Gabriel Galípolo, ainda estará no cargo, seja qual for o próximo governo, já que, pela regra de não coincidência de mandatos, um dos principais pilares da autonomia do BC, sua gestão termina só em dezembro de 2028.
Até convergir para a meta, a inflação se manterá acima de 5% durante o ano de 2025 e orbitará próxima ao teto (4,5%) no início de 2026 antes de iniciar o recuo lento rumo ao objetivo, como mostrou o Relatório de Política Monetária do BC. Na primeira entrevista coletiva desde que assumiu o cargo, Galípolo reconheceu que o cenário não é confortável. “As expectativas nos incomodam muito”, admitiu.
A manutenção do rigor da política monetária, com juros de dois dígitos que, na estimativa do mercado, devem fechar este ano em 15%, é hoje uma incógnita, menos pelos sinais emitidos pela diretoria do BC e mais pela sanha eleitoreira de Lula da Silva. Galípolo – o escolhido de Lula para comandar o banco e que já foi chamado pelo petista de “menino de ouro” – continua a garantir que será diligente na missão de conduzir a inflação ao centro da meta, mas disse que o BC está “tateando” para saber se a taxa de juros está no nível contracionista suficiente para atingir o objetivo.
Na mesma manhã em que o relatório sobre a política monetária estava sendo apresentado, o IBGE divulgou a prévia da inflação de março (IPCA-15), que subiu menos do que a do mês anterior e mesmo assim elevou o acumulado da taxa em 12 meses para 5,26%, ou seja, muito além do limite máximo tolerado. O avanço contínuo da inflação parece desconsiderar os elevados juros básicos da economia (Selic), que já atingem 14,25% ao ano. Galípolo tem razão ao falar do incômodo com relação ao futuro.
No acompanhamento da economia, o governo Lula da Silva tem demonstrado um otimismo não compartilhado nas avaliações do BC, a autoridade monetária que tem como principal função preservar o poder de compra do real. A previsão oficial de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Ministério da Fazenda é de 2,3% neste ano. O ministro Fernando Haddad já fala em 2,5%, mas o relatório do BC acaba de baixar de 2,1% para 1,9% a sua previsão.
Para a política de juros, a queda na atividade é positiva, já que o desempenho da economia acima de seu potencial tem sido um dos principais impulsionadores da inflação e, por consequência, da alta de juros necessária para contê-la. Mas o banco considera os sinais de moderação na economia ainda “incipientes”.
As nuances que evidenciam as diferenças de análise dentro do governo preocupam. No mesmo dia da divulgação do relatório do BC e do IPCA-15, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, apresentou as contas do governo no primeiro bimestre, um superávit de R$ 53,184 bilhões, o melhor resultado desde 2022. Ceron chegou a comentar que a despesa do governo caiu num esforço de harmonização da política fiscal com a monetária, mas acabou por admitir que o atraso na aprovação do Orçamento – e a consequente restrição compulsória dos gastos – pesou no resultado.
A conciliação das políticas monetária (em atual estágio contracionista) e fiscal (expansionista) é uma reivindicação recorrente do BC para reunir esforços na mesma direção de controlar a inflação, mas não é a isso que o País tem assistido.
O fato de que o governo avalia antecipar o 13.º dos aposentados é mais uma prova de que Lula da Silva continua empenhado em injetar recursos na economia, apesar da necessidade de conter o consumo, conforme manifestou o Comitê de Política Monetária do BC. As iniciativas do governo vão em sentido contrário, como o programa de incentivo ao empréstimo consignado privado que, ao menos nesta primeira etapa, é voltado ao aumento da demanda. Se isso vai alimentar a inflação, é problema do próximo presidente. As informações são do portal Estadão.