Domingo, 19 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de março de 2021
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, enfrenta uma pressão crescente para distribuir vacinas contra o coronavírus para outros países em resposta às agressivas campanhas de “diplomacia vacinal” da China e da Rússia, uma medida que ele rejeitou até agora, enquanto milhões de americanos ainda buscam imunizações com urgência.
Os adversários autoritários dos Estados Unidos – que não se preocupam com a opinião interna – estão livres para enviar vacinas a países do México ao Usbequistão.
Isso desatou um debate dentro do governo sobre como equilibrar a segurança nacional, as necessidades humanitárias e as preocupações políticas. Ativistas e especialistas alertam que os EUA podem estar perdendo uma oportunidade única de reconquistar a influência mundial após o isolacionismo do governo de Donald Trump.
J. Stephen Morrison, diretor do Global Health Policy Center do Center for Strategic and International Studies, disse que o governo Biden não deve subestimar o risco de perder em uma disputa de poder que as nações autoritárias poderiam explorar durante anos. “Os chineses e russos estão avançando em sua diplomacia de vacinas e estão ganhando amigos, influenciando pessoas e expandindo sua esfera de influência”, disse.
Pequim, por exemplo, prometeu entregar vacinas chinesas a mais de 50 países, incluindo o Paquistão, cuja cooperação é a chave para uma retirada militar bem-sucedida dos EUA do Afeganistão, e das Filipinas, uma base para as operações dos EUA no Sudeste Asiático e tradicionalmente um baluarte contra a expansão militar chinesa.
A Rússia está se esforçando para elevar o perfil de sua vacina Sputnik V, buscando vários acordos de licenciamento. Os defensores da vacina russa assinaram um acordo que pode abrir caminho para a produção na Itália, um passo potencialmente grande na expansão dos esforços de Moscou para o Ocidente.
Krishna Udayakumar, diretor do Duke Global Health Innovation Center, disse que os EUA estão “perdendo a oportunidade de afirmar com mais firmeza sua liderança no cenário global”. Segundo ele, os EUA poderiam doar mais vacinas para outros países sem afetar significativamente a disponibilidade para os americanos.
Biden decepcionou o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador na semana passada ao descartar a possibilidade de doação de vacinas dos EUA, por enquanto.
Ainda assim, a reação entre os americanos pode ser explosiva se Biden fornecer vacinas para outros países, enquanto muitos nos EUA ainda não foram imunizados. “Se tivermos um excedente, vamos compartilhá-lo com o restante do mundo”, disse Biden na última quarta-feira (10), quando pressionado sobre o assunto. “Vamos começar garantindo que os americanos sejam atendidos primeiro, mas depois tentaremos ajudar o restante do mundo.”
A declaração foi feita após o anúncio de que os EUA garantiram 100 milhões de doses a mais da vacina de dose única desenvolvida pela Johnson & Johnson, elevando o fornecimento projetado para os EUA muito além do número de americanos na fila para receber as vacinas este ano.
Mais de 30 milhões de pessoas nos EUA – cerca de 10% da população – foram totalmente vacinadas. O país tem uma média de 2,1 milhões de doses administradas por dia, ante cerca de 1,5 milhão um mês atrás.
A demanda ainda supera a oferta na maior parte do país, mas isso está começando a mudar. O governo afirmou que garantiu fornecimento suficiente para oferecer a todos os adultos americanos uma vacina até o final de maio, embora as autoridades alertem que ter a vacina em mãos não é o mesmo que ter as doses administradas, em razão de desafios como acesso a áreas remotas e a resistência de algumas comunidades em se vacinar.
Se tudo correr bem, os EUA terão um excesso de oferta de vacina ainda este ano. O governo não disse quanta vacina considera suficiente, ou que limite estabeleceria antes de considerar a exportação de vacinas.
Os EUA se juntaram à Covax, um consórcio internacional de vacinas que busca tornar a distribuição de vacinas mais justa. E Biden pareceu esta semana estar lançando as bases para o argumento de que, ao proteger outras nações, os EUA também estariam protegendo os americanos. “Isso (o vírus) não é algo que pode ser interrompido por uma cerca, não importa a altura que você construa uma cerca ou muro. Portanto, não estaremos definitivamente seguros até que o mundo esteja seguro”, disse.
Biden apostou o sucesso de sua presidência em um esforço total para superar a pandemia do coronavírus, que matou mais de 528 mil americanos e prejudicou o país por um ano. A vacinação rápida é fundamental para reabrir empresas e escolas. Os conselheiros de Biden dizem que sua abordagem prática para a pandemia foi um fator importante na derrota do ex-presidente Trump e ele deve ajudar os americanos antes de tudo.