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O príncipe da Arábia Saudita hackeou o homem mais rico do mundo

Jeff Bezos e Mohammad Bin Salman. (Foto: Reprodução)

Durante uma viagem de Mohammed bin Salman, príncipe da Arábia Saudita, ao Vale do Silício, ele conheceu Jeff Bezos, CEO da Amazon e dono do jornal The Washington Post.

O objetivo da viagem era fazer um rebranding do pais árabe, célebre pelo conservadorismo e as violações de direitos humanos – além de abrir portas para que a economia rode com participação de outros setores que não a extração de petróleo, atualmente responsável o grosso do PIB.

Formou-se uma amizade, contatos de WhatsApp foram trocados e tudo corria bem entre dois dos homens mais ricos do mundo. Até maio de 2018, quando o herdeiro saudita enviou um vídeo para o magnata. Na época, ninguém imaginou que o príncipe saudita poderia mexer com Bezos. Estavam enganados.

Após um relatório divulgado pelas Nações Unidas e uma reportagem publicada pelo jornal britânico Guardian na última terça, o caso começa a ser elucidado.

Ao que tudo indica, o vídeo veio impregnado com um programinha capaz de se infiltrar no sistema sem ser notado e roubar informações em poucas horas. Acredita-se que o software utilizado tenha sido o Pegasus-3, da empresa israelense NSO, ou o Galileu, da italiana Hacking Team.

Bezos não percebeu nada até seus dados começarem a vazar.

Aí fica a questão: por quais motivos MBS – sigla formada pelas iniciais de Mohammed bin Salman, que lhe serve de apelido – teria hackeado Bezos?

A explicação reside em outra polêmica: em outubro de 2018, o jornalista Jamal Khashoggi foi morto e esquartejado no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia. Ele trabalhava para o Washington Post de Bezos e era um forte crítico da família saudita e de seu regime.

Não era o único: o jornal comprado por Bezos não concorda com as posições de MBS e se posiciona frontalmente contra o governo de Trump, seu aliado. O assassinato foi um recado para aqueles que discordassem de seu governo.

Washington Post

O regime saudita negou ter invadido o celular de Bezos, afirmando se tratar de uma acusação “absurda”.

“A ideia de que o príncipe herdeiro hackearia o telefone de Bezos é absolutamente tola”, afirmou o chanceler saudita, príncipe Faisal Bin Farhan Al Saud.

No entanto, comunicado emitido nesta quarta-feira (22) por Agnes Callamard, relatora especial da ONU sobre execuções extrajudiciais, e David Kaye, relator especial da ONU sobre liberdade de expressão, afirmaram terem recebido uma análise forense de 2019 que dizia, com “nível médio a alto de confiança”, que o celular do bilionário americano fora alvo de “extrações (de arquivos) sem precedentes” poucas horas depois de ter recebido o vídeo enviado pela conta pessoal do príncipe saudita.

A análise forense do celular indicou que ele foi hackeado por um malware que “segundo foi amplamente reportado, havia sido comprado e utilizado por oficiais sauditas” e “é alvo de um processo judicial movido pelo Facebook/WhatsApp” contra o NSO Group, criador do malware.

“A informação que recebemos indica o possível envolvimento do príncipe herdeiro na espionagem de Bezos, em uma tentativa de influenciar, senão silenciar, a cobertura do Washington Post sobre a Arábia Saudita”, dizem os relatores da ONU, pedindo “investigação imediata pelos EUA e outras autoridades relevantes.”

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