Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 11 de março de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Em seu clássico livro “O Profeta”, Khalil Gibran – talvez o mais conhecido escritor libanês contemporâneo – conta a história de Al-Mustafá, um homem que retorna à sua terra. Os habitantes da aldeia onde ficou todos estes anos pedem que ensine o que aprendeu. A seguir, alguns dos trechos (editados) deste clássico do século XX:
O matrimônio
Vocês nasceram juntos, e juntos estarão mesmo quando as asas brancas da morte terminem com seus dias – porque continuarão unidos na memória silenciosa de Deus. Mas que haja espaço entre os dois. Que o vento dos céus possa passar entre seus corpos. Amem, mas não transformem o amor em uma atadura.
Que um encha o copo do outro, mas que jamais bebam do mesmo copo.
Cantem e dancem, estejam alegres, mas que cada um mantenha sua independência; as cordas de um alaúde estão sozinhas, embora vibrem com a mesma música.
Entreguem o seu coração, mas não para que seu companheiro o possua – porque só a mão da Vida pode conter corações inteiros. Estejam juntos, mas não demasiados juntos – porque os pilares de um templo estão separados. O carvalho não cresce à sombra do cipreste, e o cipreste não consegue crescer à sombra do carvalho.
Os filhos
Seus filhos não são seus filhos; são filhos e filhas da vida. Vieram através de vocês, mas não lhe pertencem. Podem dar seu amor, mas não seus pensamentos – porque eles têm seus próprios sonhos.
Podem proteger seus corpos, mas não suas almas – porque suas almas habitam na casa do amanhã, que mesmo em sonho vocês não podem visitar.
Podem tentar ser como eles, mas não tentem fazer com que se comportem como vocês; porque a vida não retrocede, nem se deixa seduzir pelo dia de ontem.
Vocês são o arco onde seus filhos, como flechas vivas, são impulsionados para adiante; deixem que a mão do Arqueiro trabalhe, porque assim como Ele ama a flecha que voa, também ama o arco, que permanece estável.
O amor
Quando o amor chamar, aceitem seu chamado, mesmo que o caminho seja duro, difícil.
E quando suas asas se abrirem, entreguem-se, mesmo que a espada que está ali escondida termine provocando ferimentos.
E quando o amor disser algo, acreditem, mesmo que sua voz destrua seus sonhos, como o vento do norte devasta os jardins.
Porque o amor glorifica e crucifica. Faz crescer os ramos, e os poda. Tritura os homens, até que estejam flexíveis e dóceis. Os queima em fogo divino, para que possa converter-se em um pão sagrado, que será consumido no banquete de Deus.
Entretanto, se tiverem medo, e quiserem encontrar no amor apenas a paz e o prazer, melhor que se afastem de sua porta, e procurem outro mundo, onde poderão rir mas sem toda alegria, e poderão chorar mas sem usar todas as lágrimas.
O amor não dá nada e não pede nada além de si mesmo. O amor não possui nem é possuído – porque ele se basta.
E não tentem dirigir o seu curso: porque se o amor achar que são dignos, ele os dirigirá até onde devem chegar.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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