Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Harison Druck | 9 de dezembro de 2020
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A ética é individual. É o processo de racionalização das ações de um indivíduo em relação à sua hierarquia de valores e princípios. Vida e liberdade, valores caros para mim, foram postos em conflito diversas vezes durante a pandemia, quando pude experimentar agir de forma ética e ser considerado corrupto, bem como me sentir corrompido ao seguir os protocolos.
O quanto eu – tomado mais ou menos por vieses cognitivos em meu processo decisório (consciente ou inconsciente) – acredito ser provável que minha ação violará minha vida ou a de outro influencia diretamente o quanto estarei disposto a abrir mão de minha liberdade para preservá-las, ou esperar que outro o faça.
No entanto, muitas vezes precisei agir em contrariedade a meus princípios para estar em conformidade com o código de ética que se instalou, formal e informalmente, na pandemia. Me submeti a ele diversas vezes, para evitar conflitos ou explicações. E pude perceber que, de alguma forma, me senti corrompido.
Não existe ética coletiva. É natural que coletivos busquem criar códigos de ética para que se percebam quais ações se esperam de um indivíduo que deles participem. No entanto, quanto mais coercitivo for tal código, mais indivíduos ele corromperá. É por isso que, em um ambiente com muitas leis, há mais corrupção.
É também por isso que os coletivos mais funcionais são aqueles que têm alinhamento profundo de valores. Isso só será possível se tais valores forem realmente comuns à grande maioria dos indivíduos que compõem o coletivo. A tentativa de coagir indivíduos singulares e diversos sob o mesmo código de ética levará necessariamente à coerção e à corrupção, em maior ou menor grau.
A pandemia está nos oportunizando reflexões importantes. A que compartilho aqui é sobre o quanto a tentativa de criar um código de ética coletivo impõe coerção e corrupção na proporção em que não representa a ética dos indivíduos que dele participam (voluntária ou involuntariamente). O exemplo é simples, mas o conceito é amplamente aplicável.
Harison Druck
Engenheiro e associado do IEE
harisondruck@irani.com.br
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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