Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 16 de novembro de 2024
Fundado em 1999 para lidar com crises financeiras e instabilidades econômicas, o G20 ganhou destaque durante a crise financeira global de 2008, quando tiveram início as cúpulas anuais dos líderes mundiais. O bloco reúne países que lideram a economia global e respondem por cerca de dois terços da população do planeta, além de 75% do comércio mundial.
Desde 2008, o fórum evoluiu para uma espécie de “mini ONU” que lida com questões como mudanças climáticas e tensões geopolíticas, embora os Estados-membros nem sempre concordem sobre o que deve estar na agenda.
O Brasil assumiu a presidência rotativa anual do G20 em dezembro passado ao suceder a Índia. A África do Sul será o próximo país a assumir a liderança do grupo no próximo ano.
Ao longo de 2024, o Brasil sediou e presidiu várias reuniões ministeriais do G20. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva pautou questões pertinentes ao mundo em desenvolvimento durante sua presidência do bloco. Entre elas, a redução das desigualdades, a reforma de instituições de governança global, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), o enfrentamento das mudanças climáticas e a promoção do desenvolvimento sustentável.
Para M. Habib Abiyan Dzakwan, pesquisador de política econômica internacional no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) da Indonésia, o Brasil deve fortalecer a abordagem dos países do G20 em questões cruciais como mudanças climáticas e desafios globais de saúde.
Contudo, ainda não está claro o que o Brasil conseguirá alcançar em termos concretos.
Conflitos
Obter um consenso sobre uma declaração conjunta dos líderes sobre temas como a guerra entre Rússia e Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio será um dos desafios do Brasil.
A Índia, que sediou a cúpula no ano passado, conseguiu obter uma vitória ao negociar um consenso na declaração conjunta final abordando a guerra na Ucrânia, mas evitando condenar especificamente a Rússia.
Em vez disso, o texto categorizou o “sofrimento humano e os impactos negativos adicionais” da guerra em um contexto econômico “com relação à segurança alimentar e energética global, cadeias de abastecimento, estabilidade macrofinanceira, inflação e crescimento”.
“Mais do que apenas equilibrar relações importantes, o que a Índia tentou na geopolítica foi unir divisões, tanto a Leste-Oeste quando a Norte-Sul”, afirmou o ex-diplomata indiano Ajay Bisaria.
Observadores na Índia concluíram que a cúpula em Nova Déli reforçou a imagem de seu país como uma força diplomática e econômica em ascensão no cenário global, particularmente em um momento em que o mundo enfrentava múltiplas crises geopolíticas e econômicas.
Ano difícil
Um ano antes, durante a presidência da Indonésia, os líderes do G20 se reuniram na idílica ilha de Bali. A cúpula ocorreu em um momento de dúvidas sobre a própria eficácia e utilidade do G20, tendo como pano de fundo a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, que causou divisões sem precedentes dentro do grupo.
O presidente indonésio, Joko Widodo, estava empenhado em fazer da liderança do G20 o ponto alto de seu governo. Ao final, os resultados da cúpula superaram as expectativas, o que se tornou uma vitória diplomática para Jacarta.
Os participantes conseguiram concordar com uma declaração final cuidadosamente redigida, observando que “a maioria dos membros condenou veementemente a guerra na Ucrânia e enfatizou que está causando imenso sofrimento humano e exacerbando as fragilidades existentes na economia global”.
Desafios
Dzakwan avaliou que cada presidência do G20 enfrenta seus próprios desafios, que estão cada vez mais complexos. Ele observou que a presidência da Indonésia em 2022 foi significativamente ofuscada pela guerra na Ucrânia, enquanto a Índia, no ano passado, teve que lidar com tensões crescentes no Oriente Médio, além do conflito na Ucrânia.
O pesquisador disse acreditar que esses desafios continuarão a se intensificar, principalmente com o retorno de Donald Trump à Casa Branca. “Nunca foi fácil, principalmente a partir do primeiro governo Trump. Isso demonstra que o multilateralismo não é muito eficaz, mas sim mais transacional”, afirmou.