Integrantes da família Bolsonaro garantem a aliados que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), em especial, Alexandre de Moraes, terão os vistos que permitem a entrada nos Estados Unidos cassados, com a eleição de Donald Trump. Os magistrados, no entanto, não veem chance disso acontecer.
Integrantes do STF avaliam que, com a vitória do republicano, nem esta e nem outras medidas de retaliação defendidas pelos bolsonaristas sobre a Corte serão tomadas.
Em setembro, cinco congressistas americanos solicitaram formalmente ao secretário de Estado, Antony Blinken, a cassação dos vistos do ministro do STF. Um dos argumentos foi a suspensão da rede X (antigo Twitter), após a plataforma descumprir ordens judiciais do Brasil.
A medida não prosperou no governo Joe Biden e a esperança do clã Bolsonaro é que ela avance no governo Trump.
Brincadeira
Após a vitória do republicano nos Estados Unidos, os ministros do Supremo fizeram piada sobre a possibilidade de terem o visto americano cancelado. A informação é da colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo.
Segundo a colunista, a brincadeira foi feita em uma sala da Corte, quando os magistrados se preparavam para uma sessão no plenário. O presidente, Luís Roberto Barroso, os ministros Flávio Dino, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Kassio Nunes estavam presentes. A piada era sobre adivinhar qual deles teria primeiro o visto revogado por Trump, que é aliado do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
A leitura é de que, com a eleição de Trump, “nada mudou, nem vai mudar”, como disse um interlocutor – especialmente depois da resposta contundente que o STF deu aos atos criminosos do 8 de Janeiro.
Há uma avaliação de que Trump de fato inflama o ataque às instituições, mas que isso não vai se traduzir em ações concretas no Brasil.
Fontes do Judiciário atribuem essa percepção à severidade das penas impostas aos envolvidos no 8 de Janeiro, o que desanimaria qualquer nova investida contra o STF, independentemente da eleição de Trump.
Ainda assim, ministros reconhecem que a vitória de um candidato de extrema-direita é preocupante em nível mundial, e que isso exige “vigilância constante” para a proteção das democracias.
O ex-presidente e ex-decano do STF Celso de Mello avalia que a Corte é “expressão legítima da soberania nacional” e rechaça que a eleição de Trump possa levar o Judiciário brasileiro a rever suas decisões.
“A Corte Suprema do Brasil não serve a governos, a pessoas ou a grupos ideológicos, nem se curva à onipotência do poder ou aos desejos daqueles que o exercem”, disse.