Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de agosto de 2022
Vamos fazer um pequeno jogo de perguntas. Você pode responder “bem”, “mal” ou “mais ou menos”. Vamos começar?
Como vai o seu trabalho? Como foi a sua semana? Como vão as coisas com seu companheiro ou companheira? No geral, como você se sente?
Se a maioria das respostas foi “mais ou menos”… você pode ter languidez. Não se assuste, não é nada preocupante. Mas é algo que precisa ser tratado, especialmente quando se prolonga por muito tempo.
Mas o que é a languidez?
Trata-se de um estado emocional no qual “não há propósito de vida, há estagnação, sentimento de vazio e falta de paixão”, explica a venezuelana Verónica Morera, diretora do portal Purple Rain Nutrition, especializada em saúde mental integrativa.
Neste estado “mais ou menos”, o principal é que sentimos apatia ou vazio. Segundo Morera, “somos funcionais, mas agimos no automático”: nós nos levantamos, tomamos café, banho, vamos ao trabalho e cumprimos nossa jornada “porque precisamos fazer”.
Mas seguimos sem rumo, ou seja, sem propósito de vida e sem o motor proporcionado pelo desejo e pela paixão.
Não é algo patológico, pois faz parte dos estados emocionais normais das pessoas — e todos nós podemos nos sentir assim, até dentro de um mesmo dia, com “picos de inspiração e de apatia”, explica Morera.
Mas, quando se está lânguido, “não há picos, tudo é plano”.
E o problema surge quando esse nivelamento, essa languidez, se torna algo crônico.
Além dessa apatia constante em relação a tudo, existem outros sintomas que podem nos ajudar a detectar a languidez.
Por exemplo: você foi de casa para o trabalho, mas não lembra como chegou lá. Ou você ficou muito tempo nas redes sociais, mas não sabe o que viu. Você não retém nada.
Morera destaca que ficar muito tempo concentrado em alguma coisa é um dos sinais de alerta.
“É uma forma de regular o sistema nervoso, existe um vazio e um excesso de distrações para fugir.”
Ela destaca que os excessos em geral — de redes sociais, comida, álcool, esportes, saídas — são uma ferramenta de evasão.
É possível sentir também desconexão do mundo real — “há uma dissociação, uma sensação de não pertencimento”, indica Morera.
Podemos andar pela rua, por exemplo, sem nos dar conta de nada, ou pedir um café sem ver as pessoas à nossa volta.
Pode haver até uma desconexão com o nosso próprio corpo. Não percebemos que precisamos tomar banho, que temos fome, sede ou estamos saciados.
Precursora da depressão
A psicóloga clínica chilena Javiera Torres, professora da Universidade Finis Terrae, em Santiago do Chile, afirma que, para verificar a languidez, podemos prestar atenção às atividades de que sempre gostamos, mas que deixaram de despertar nosso interesse.
Se você costumava pintar seis dias por semana e vai reduzindo a intensidade ao ponto de não querer mais, de provocar tédio, “observe este alerta e acorde”.
Torres destaca que, embora a languidez “não seja depressão, isso não quer dizer que não seja importante”.
Ela pode ser uma forma de nos protegermos em momentos em que “é preciso sobreviver e seguir adiante em meio às incertezas”, como aconteceu com muita gente durante a pandemia — exatamente quando o termo se tornou popular.
“O problema do modo de sobrevivência é que ele só pode ser usado por períodos curtos”, diz Morera.
Se ele se prolongar, pode se transformar em depressão.
“Deixei tanto de sentir paixão na minha vida que, em algum momento, eu me conformei com esse estado de achatamento”, explica Morera sobre o pensamento que acomete quem sofre de languidez.
E este estado, segundo a psicóloga venezuelana, passa de uma zona cinzenta para a escuridão, de onde é mais difícil sair.
E fazer tudo em modo automático vai te levar a não querer se levantar da cama, a ver tudo pelo lado negativo e não cumprir com a rotina do dia a dia.
Mas existem formas de evitar que se chegue a este extremo.
“A languidez é um aviso, uma chamada para a mudança, algo que meu corpo está fazendo e não quer mais”, afirma a terapeuta espanhola Ana Sánchez-Anegón, fundadora da empresa El Animal Emocional.
Ela afirma que é preciso fazer uma análise das nossas relações, do nosso trabalho e das nossas motivações: “É um rompimento para assumir as rédeas da nossa vida.”