Durante as primeiras horas da perícia do local do acidente do avião da Voepass em Vinhedo, que matou 58 passageiros e quatro tripulantes na sexta-feira (9), a caixa-preta da aeronave foi encontrada entre os destroços. A peça, feita em material resistente a desastres como este no interior paulista, será crucial para desvendar os motivos pelo qual o ATR 72-500 que despencou quatro mil metros em um minuto.
Quando um acidente aéreo acontece, a busca pela caixa-preta é prioridade após o resgate de possíveis sobreviventes. A peça é um sistema de registro de dados e voz do avião, que grava as últimas conversas da tripulação, além de informações da aeronave como velocidade, aceleração, condições climáticas, altitude e ajustes de potência.
Ela é dividida em duas partes. Uma é o gravador de voz do cockpit (CVR), que captura as últimas horas de conversas entre a tripulação e sons internos da aeronave. A outra é o gravador de dados de voo (FDR), que captura informações técnicas sobre o trajeto adotado pelo avião até a queda.
No caso do ATR que caiu em Vinhedo, tanto o CVR quanto o FDR foram encontrados e já foram encaminhados para Brasília. Na capital federal, as gravações e os dados serão inspecionados pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
A partir das informações preservadas pela caixa-preta, serão esclarecidas as causas para a queda do ATR. Deixando 57 passageiros e quatro tripulantes mortos em um condomínio residencial de Vinhedo, o acidente dessa sexta é o maior da aviação comercial brasileira desde 2007, quando um Airbus A320 da TAM (atual Latam) se chocou com um prédio da própria empresa em Congonhas, matando 199 pessoas. O desastre de 17 anos atrás foi elucidado devido à preservação do sistema de dados.
As primeiras hipóteses que surgiram após o acidente versam sobre uma possível formação de gelo nas asas do avião, que podem ter feito a aeronave perder sustentação e despencar de forma rápida. Para atestar a causa do desastre, é primordial que os especialistas analisem a última conversa entre os pilotos e os dados de desempenho do ATR, como as condições climáticas e a razão de descida brusca.
Altas temperaturas e fortes impactos
A caixa-preta é feita com uma liga de aço e titânio, tornando-a ultra resistente. A peça pode suportar forças superiores à 3,4 mil G, ou seja, 3,4 mil vezes a força gravitacional da terra e variações de temperatura entre -60ºC e 1.100 Cº.
No caso do ATR, mesmo com o impacto em “parafuso chato”, que tirou das 61 vítimas qualquer chance de sobrevivência, a peça foi encontrada preservada pela perícia, segundo informações do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.
Chamada de caixa-preta, a peça, na verdade, é laranja. A escolha da cor tem uma razão: é preciso que ela seja destacada entre os destroços e possa ser localizada em ambientes de difícil visualização.
O mecanismo costuma ser armazenada na parte traseira dos aviões. Estatisticamente, a cauda da aeronave é a parte que sofre menos danos em desastres aéreos.
Também visando a preservação das conversas do piloto e o trajeto feito pelo avião, a peça tem a sua própria fonte de energia elétrica. A caixa-preta emite um sinal de localização que pode ser rastreado até mesmo no fundo do oceano.