Quinta-feira, 09 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 10 de março de 2023
Em relacionamentos abusivos, a violência contra a mulher é uma espiral que tende sempre a crescer, nunca a diminuir. Começa com palavras duras, progride para tortura psicológica e agressões físicas até culminar em morte. O feminicídio é o termo usado para nomear um homicídio cometido em razão de gênero.
Crimes desse tipo bateram recorde no Brasil, em 2022: 1,4 mil mulheres foram assassinadas, um avanço cruel de 5% em relação a 2021, de acordo com levantamento feito pelo portal de notícias G1 com dados estaduais. Na prática, isso significa que uma mulher é morta a cada seis horas no Brasil simplesmente por ser mulher.
Trata-se do maior número de casos desde 2015, quando foi promulgada a Lei nº 13.104/2015 que torna o feminicídio um homicídio qualificado e o coloca na lista de crimes hediondos, com penas de 12 a 30 anos.
“Depois da Lei Maria da Penha, de 2006, a lei do feminicídio veio trazer o assunto para o centro do debate com o intuito de conscientizar a população a respeito e tornar público o que até então era tratado apenas na esfera privada”, explica Isabela Sobral, coordenadora do núcleo de dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Apesar da maior conscientização, os casos de violência no Brasil continuam crescendo. O estudo “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil – 4ª Edição”, feito pelo FBSP, mostra que:
– 28,9% das brasileiras relatam terem sido vítimas de algum tipo de violência ou agressão nos últimos 12 meses, o maior percentual da série histórica;
– Na ponta do lápis, isso significa que cerca de 18,6 milhões de mulheres de 16 anos ou mais sofreram alguma forma de violência ao longo de 2022;
– Companheiros e ex-companheiros são os principais responsáveis (58,1%) pelos crimes, tanto é que 53,8% das mulheres relatam terem sofrido os episódios mais graves dentro de casa.
Esse cenário desumano faz com que os números do Brasil superem a média mundial. Enquanto os resultados globais indicam que 27% das mulheres com idade entre 15 e 49 anos já experimentaram violência física ou sexual provocada por parceiro ou ex-parceiro íntimo, por aqui, o percentual é de 33,4%, de acordo com o estudo “Visível e Invisível”. Se o leque for ampliado com casos de violência psicológica, como humilhações, xingamentos e insultos reiterados, o percentual chega a 43%.
Ou seja, cerca de 27,6 milhões de mulheres sofreram alguma forma de violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida no Brasil.
Chama a atenção o efeito cascata das vulnerabilidades dentro de um grupo já vulnerável. Praticamente metade das mulheres com até ensino fundamental (49%) foram vítimas de violência por parte de parceiro íntimo ao longo da vida. Em relação ao perfil étnico racial, mulheres negras (45%) registram um percentual maior de agressões do que das mulheres brancas (36,9%).
O que torna esse quadro ainda mais desolador é a dificuldade das vítimas em denunciar os criminosos ou procurar ajuda: 45% delas disseram que “não fizeram nada” após os crimes. “Muitas disseram que ‘resolveram sozinhas’, sem explicar o que fizeram exatamente. Outras disseram que a polícia não tinha nada a oferecer para ajudá-las.”
Mas há quem esteja rompendo esse ciclo de silêncio. Somente em janeiro e fevereiro deste ano, foram feitas 16.965 denúncias de violência contra mulher no Brasil, referentes a 102.076 violações, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. As informações são do jornal Valor Econômico.