Quinta-feira, 02 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de dezembro de 2024
A nova administração de Donald Trump nos EUA é cercada por expectativas sobre guerras, negociações climáticas, disputas econômicas e até receber a Copa do Mundo de futebol em 2026. Mas uma missão de especial importância é prevista para a gestão do próximo presidente: a volta do homem à Lua. Foi ele que, em seu primeiro mandato na Casa Branca, lançou o Programa Artemis com esse objetivo, em 2017.
Em “meados de 2027″, conforme o novo calendário da Nasa, a agência espacial americana, o programa planeja levar humanos de volta ao satélite natural da Terra pela primeira vez desde 1972. O voo tripulado estava previsto inicialmente para 2025, mas já foi adiado duas vezes por conta de problemas técnicos na cápsula que levará os astronautas. E, pela primeira vez, um homem negro e uma mulher fazem parte da equipe que vai pousar na Lua.
“A Nasa é uma agência bipartidária. Nas próximas semanas e meses, estaremos trabalhando para assegurar uma transição suave para a administração Trump em 20 de janeiro de 2025. A agência segue focada em sua atual direção de avançar na exploração da Lua e de Marte, em novas descobertas científicas e inovações na aeronáutica e na tecnologia espacial que beneficie a todos”, informou a agência especial em comunicado.
Especialistas acreditam que o papel da agência espacial sexagenária deve ganhar ainda mais relevância na administração de Trump, sobretudo no que diz respeito à parceria com o setor privado para acelerar os planos de exploração de Marte e também para renovar a competição espacial com um rival histórico e cada vez mais poderoso, a China.
Trump terá a seu lado no governo, à frente do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental, ninguém menos que Elon Musk. O empreendedor bilionário se tornou o rosto da exploração espacial moderna, com sua empresa de foguetes, a SpaceX. A liderança de Musk frente à empresa revolucionou a indústria espacial, mostrando que empresas privadas podem entregar soluções inovadoras e custo-eficientes mais rapidamente do que os programas do governo.
“Sabemos que ele terá influência, mas não sabemos o quanto estará agindo diretamente na Nasa”, afirma a vice-diretora de ciências planetárias do Jet Propulsion Laboratory (JPL), da Nasa, Rosaly Lopes. “Mas ele (Musk) é inteligente, com muita visão, e revolucionou o lançamento de foguetes. O que a empresa dele fez é, de fato, extraordinário. Esperamos que seja uma influência positiva.”
Sobre o orçamento da agência espacial, a pesquisadora brasileira afirmou:
“Não sabemos ainda (se haverá mais verba). Depende de muitos fatores”, diz. “Tenho a esperança de que seja melhor; nos últimos dois anos sofremos muito por causa de orçamento. Tivemos de mandar embora quase mil pessoas no JPL.”
Augusto Getirana, outro brasileiro que trabalha na Nasa, tem expectativa semelhante.
“Estou esperançoso que o próximo governo entenda a importância do trabalho da Nasa, principalmente no monitoramento da Terra, e que não realizará alterações no orçamento ou missão da agência”, acrescenta ele, hidrólogo e cientista sênior do Centro Goddard da agência espacial. Confira abaixo as principais apostas e temores de especialistas sobre a parceria.
– A volta à Lua: O Programa Artemis foi lançado no 1º mandato de Donald Trump e, agora, ele colherá os louros pelo primeiro pouso no satélite natural da Terra desde 1972. Outros países têm conseguido avançar na corrida espacial e apostam em planos ousados. A China, por exemplo, prevê uma missão tripulada à Lua até 2030.
– Rumo a Marte: O principal objetivo do Programa Artemis é transformar a Lua em uma base espacial para a conquista de Marte. Há cerca de uma década, Musk apresentou seu próprio plano de colonização de Marte por meio da SpaceX.
– Parceria com empresas privadas: Com Elon Musk no governo – e também atuando informalmente como consultor para política espacial -, é de se esperar uma ampliação das parcerias da Nasa com o setor privado
– Orçamento da Nasa: Com um entusiasta do programa espacial na presidência e um empresário do setor no governo, especialistas apostam em aumento do orçamento da Agência Espacial, que já vinha apertado e sofreu redução no ano passado. Alguns especialistas, porém, são mais pessimistas e acreditam que a visão empresarial de Musk pode trazer vantagens no gerenciamento da agência, mas pode também impor redução drástica nos custos do programa espacial.
– Risco de conflito de interesses: A presença de Musk no governo tem o risco potencial de gerar conflitos de interesse na administração da Nasa. A empresa dele, a SpaceX, poderia ter vantagens sobre outras empresas espaciais, como a Blue Origin, de Jeff Bezzos.
– Negligenciamento de projetos científicos: O foco em grandes projetos como a volta à Lua e a eventual conquista de Marte pode indicar que a nova administração deve priorizar os programas espaciais em detrimento de outras missões científicas da agência de igual importância, como as ciências atmosféricas. Na área de crise climática, por exemplo, Trump tem dado pouca atenção aos debates e ameaça tirar os Estados Unidos novamente do Acordo de Paris, pacto global para conter o aquecimento do planeta. (Estadão Conteúdo)