Pelo menos quatro cidades palestinas são alvo de uma mega ofensiva de Israel na Cisjordânia ocupada. Nove palestinos foram mortos, segundo autoridades de saúde palestinas e militares israelenses. As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) afirmam que os mortos eram “terroristas armados”.
No entanto, o número real de vítimas pode ser maior: as autoridades palestinas haviam confirmado anteriormente pelo menos 11 mortos. A operação de Israel acontece simultaneamente em pelo menos quatro cidades: Jenin, Tulkarem, Nablus e Tubas, que cobrem grande parte do norte da Cisjordânia.
Acredita-se que esta seja a primeira vez que várias cidades palestinas são alvo de incursões militares simultâneas de Israel desde a Segunda Intifada, a revolta palestina que ocorreu entre 2000 e 2005. Para Paul Adams, jornalista de Diplomacia da BBC News, a ofensiva atual é o mais recente sinal de que Israel teme que a área esteja fora de controle.
As IDF já enfrentavam, antes mesmo da guerra em Gaza eclodir em outubro passado, uma nova geração de grupos armados na Cisjordânia, especialmente em Jenin. Mas agora uma nova frente de batalha se abriu em vários campos de refugiados na parte norte da Cisjordânia, incluindo aqueles atacados nessa quarta-feira (28).
“É como um câncer. Está se espalhando”, afirmou o general Israel Ziv, ex-chefe da divisão de operações da IDF, no início deste mês a Adams.
Segundo o jornalista, Israel vê a emergência de novos grupos armados como parte de um esforço do Irã para ocupar suas forças em várias frentes e desviar sua atenção. Teerã, dizem as autoridades israelenses, é responsável pelo financiamento e, em alguns casos, pelo armamento dos militantes (feito por meio de rotas de contrabando por meio da Síria e da Jordânia).
Até agora, os militares israelenses mantinham em parte o controle da situação. Mas as táticas mais agressivas das IDF – incluindo ataques aéreos, ataques altamente destrutivos a campos de refugiados e um número crescente de mortes de civis – ameaçam transformar os grupos armados em heróis locais, com cada vez mais jovens palestinos dispostos a se mobilizar.
Com as últimas medidas do governo israelense para criar novos assentamentos judeus em toda a Cisjordânia e as ações cada vez mais violentas de alguns colonos, o resultado é uma atmosfera cada vez mais inflamada. “Definitivamente, não estamos controlando a escalada por lá”, admitiu o general Ziv.
“Devemos enfrentar a ameaça da mesma forma que enfrentamos a infraestrutura terrorista em Gaza, incluindo a evacuação temporária dos residentes palestinos e todas as medidas necessárias”, acrescentou o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz.
Escalada violenta
Por sua vez, a presidência da Autoridade Nacional Palestina indicou que esta última escalada de violência na Cisjordânia, juntamente com a atual guerra em Gaza, “conduzirá a resultados terríveis e perigosos pelos quais todos pagarão o preço”.
Nabil Abu Rudeineh, porta-voz da presidência, afirmou que a ofensiva israelense na Cisjordânia foi “uma continuação da guerra global contra o nosso povo, a nossa terra e os nossos lugares sagrados”, conforme citado pela agência palestina Wafa.
Rudeineh acrescentou que as autoridades israelenses, que ocupam a Cisjordânia, são responsáveis pela escalada, “tal como os Estados Unidos”, uma vez que estes últimos “fornecem proteção e apoio a esta ocupação para continuar a sua guerra contra o nosso povo palestino”.
O porta-voz apelou aos Estados Unidos para intervirem para travar a escalada, que “representa uma ameaça à estabilidade da região e do mundo inteiro”.
Já o ativista palestino pelos direitos civis Mustafa Barghouti afirmou à BBC que os eventos desta quarta-feira na Cisjordânia sugerem que “o Exército israelense está tentando levar a guerra de Gaza para a Cisjordânia”.
“O que você vê aqui é uma guerra unilateral por um enorme Exército israelense com força aérea atacando basicamente a população civil na Cisjordânia”, diz Barghouti, acusando Israel de violar a lei internacional.
Ele também alega que o Exército israelense emitiu ordens de evacuação para pessoas no campo de refugiados de Nur Shams – algo relatado pela agência de notícias palestina Wafa, mas não confirmado por Israel.
O Ministério da Saúde Palestino na Cisjordânia pediu à comunidade internacional que ajude a proteger os hospitais em Jenin, Tulkarm e Tubas em meio à ofensiva.
Em uma declaração, o ministério acusou os militares israelenses de bloquearem o acesso de ambulâncias, o que “constitui uma violação flagrante” do direito humanitário.