Ao comentar o aumento de 1 ponto porcentual na taxa básica de juro da economia (a Selic), para 12,25% ao ano, na quarta-feira (11), os economistas de alguns dos principais bancos privados do País reforçaram que o Comitê de Política Monetária (Copom) demonstrou estar fazendo a sua parte. Porém, ainda há incerteza se essa elevação no juro, embora alta, e as próximas já sinalizadas serão suficientes para o controle da inflação.
Ao economista-chefe do Banco Itaú, Mario Mesquita, ex-diretor do Banco Central, chamou a atenção o comunicado do Copom não ter destacado que a decisão foi unânime. Por isso ele levanta a possibilidade de dissenso entre os integrantes do comitê, apesar de todos terem votado pelo aumento de 1 ponto porcentual.
“Curiosamente, embora todos os membros do conselho tenham votado pelo aumento de 100 p.b. (1 ponto porcentual), o texto não mencionou que a decisão foi unânime”, afirma Mesquita, em relatório. “Isso, em nossa opinião, levanta a possibilidade de que não houve consenso sobre a sinalização.”
Segundo Mesquita, é possível, “embora menos provável”, que alguns integrantes do Copom tenham optado “por um ritmo diferente de aumento”, talvez de 0,75 ponto porcentual, “mas acabaram apoiando a maioria para minimizar ruídos”.
O Bradesco avalia que a sinalização do Copom de Selic a, no mínimo, 14,25% no começo de 2025 é maior do que a projeção atual do banco, o que fará com que haja uma reavaliação do cenário nos próximos dias. O banco lembra ainda que o movimento na Selic, de alta de 1 ponto porcentual, veio em linha com o precificado na curva de juros, mas ficou acima dos 0,50 ponto porcentual estimado pelo banco.
O comunicado do Copom, que além da alta de 1 ponto porcentual da Selic, para 12,25%, antecipa mais dois aumentos de igual magnitude, tira a troca de comando na autarquia dos holofotes, ao menos temporariamente, na avaliação do estrategista macro do BTG Pactual, Portfolio Solutions, Alvaro Frasson.
Para ele, o comunicado firme do colegiado de diretores do Banco Central (BC) é “positivo e importante” para a credibilidade da instituição, devendo afastar a desconfiança sobre a condução da política monetária no início do mandato de Gabriel Galípolo.
“Até 6 de maio, sabemos que a Selic será 14,25%”, comenta Frasson, referindo-se ao aviso de que em cada uma das próximas duas reuniões o Copom, salvo surpresas, vai subir os juros de referência em um ponto porcentual. Fica assim em aberto apenas o que o colegiado vai decidir na terceira reunião de 2025, marcada para 6 e 7 de maio.
Conforme o estrategista, mais do que um forward guidance – ou seja, uma sinalização dos próximos passos -, a mensagem de que o Copom antevê a repetição da alta desta quarta-feira é uma “certeza”, uma clara antecipação das decisões das próximas reuniões do comitê.
Frasson pondera que a credibilidade de Galípolo ainda terá que ser construída “reunião após reunião”, mas o comunicado já adianta um bom ambiente para os primeiros encontros do Copom.
Com a posição mais firme, o BC tem mais chance de reancorar as expectativas de inflação, mas, pondera o estrategista, será preciso também um arrefecimento da atividade econômica, ainda muito aquecida. Se esta reancoragem acontecer ao longo do primeiro trimestre de 2025, diz Frasson, talvez o BC tenha espaço para voltar a cortar os juros no fim do ano que vem, algo que o mercado vinha retirando do cenário.
Dominância fiscal
A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, considera que o Brasil passa por um risco de dominância fiscal, em que um Banco Central (BC) mais hawkish (rigoroso), com alta significativa de juros, pode não ser suficiente para reancorar as expectativas.
“Acho que podemos ver um impacto grande (da alta expressiva de juros pelo BC) na economia sem o benefício de controlar inflação caso o cenário fiscal continue se deteriorando, impactado pelo câmbio e por impulsos fiscais. Mas, ainda assim, o BC está fazendo o seu papel na política monetária”, afirma.
Segundo ela, o Copom foi “bastante duro, mostrando desconforto muito grande com a desancoragem das expectativas”. A expectativa do Inter era de alta de 0,75 ponto porcentual da Selic nesta quarta-feira, 11, mas o BC elevou a taxa em 1 ponto porcentual e ainda indicou mais duas altas na mesma magnitude. As informações são do portal InfoMoney.