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O que já se sabe sobre a cloroquina: Medicamento, que ainda está em fase de testes, virou alvo de debate entre cientistas e políticos

Os resultados devem estar disponíveis entre seis e oito semanas. (Foto: Getty Images)

A hidroxicloroquina tem ocupado espaço de destaque quando se fala em novo coronavírus e perspectivas de tratamento. Ao mesmo tempo em que muitos apostam suas fichas na droga, como é o caso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cientistas permanecem cautelosos e as pesquisas ainda se mostram inconclusivas.

Veja abaixo algumas das principais perguntas e respostas sobre a droga.

Qual a diferença entre a cloroquina e a hidroxicloroquina?

A hidroxicloroquina é um derivado oxidado da cloroquina, criado para reduzir a distribuição tecidual da droga e diminuir sua toxicidade, especialmente a ocular, segundo José Luís Vieira, do grupo de toxicologia da UFPA. A hidroxicloroquina também foi desenvolvida para driblar a resistência do tratamento da malária à cloroquina. Ambas têm sido testadas e usadas contra o coronavírus.

Para que doenças essa droga já é aprovada?

Para lúpus, malária, artrite reumatoide e doenças inflamatórias. Ainda não há estudos conclusivos e uma indicação oficial para o tratamento de Covid-19.

Por que a droga começou a ser associada ao novo coronavírus?

Há anos se sabe que a cloroquina e seus derivados têm efeito in vitro contra os coronavírus. Diante da pandemia do novo coronavírus, o Sars-CoV-2, cientistas chineses fizeram testes preliminares do remédio, e o médico infectologista francês Didier Raoult, que estuda o medicamento há décadas, propôs testá-lo em pacientes. Os estudos chamaram a atenção do mundo num momento em que se busca um medicamento para a Covid-19. A associação da cloroquina com o novo coronavírus, porém, só ganhou repercussão mundial de vez depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que a cloroquina seria testada contra a pandemia no país. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro também se tornou um defensor da substância.

Quais são as evidências científicas do uso dos medicamentos contra a Covid-19?

Além da Covid-19, a cloroquina e a hidroxicloroquina já foram testadas contra zika, influenzas, ebola e chikungunya. Em células, as drogas apresentavam resultados interessantes, mas a utilização em animais apresentava problemas.

O estudo do francês Didier Raoult é uma das evidências mais citadas. A pesquisa afirmou ter identificado efeito da hidroxicloroquina em 20 pacientes, mas avaliou somente a carga viral dos pacientes, não seu resultado clínico, como febre e oxigenação. A Isac (International Society of Antimicrobial Chemotherapy), responsável pelo periódico onde o estudo foi publicado, afirmou em 3 de abril que a pesquisa não “atendia aos padrões esperados, especialmente pela falta de explicações dos critérios de inclusão e triagem de pacientes”.

A Isac também afirma que é importante ajudar a comunidade científica a publicar novos dados rapidamente, “mas isso não pode acontecer às custas da redução do escrutínio científico”. Um editorial da revista médica inglesa BMJ também afirmou que o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a Covid-19 é prematuro e potencialmente danoso.

Além do estudo de Raoul, a revista cita as fragilidades e métodos questionáveis de um estudo chinês com 62 pacientes que também tem sido apontado como prova de eficácia. O Ministério da Saúde afirma que, “até o dia 23 de março de 2020 foram identificados dois estudos clínicos, com resultados divergentes, sobre o uso de hidroxicloroquina. Os dois estudos são pequenos e com alto risco de viés.” Atualmente, há pelo menos 80 estudos no mundo testando cloroquina ou hidroxicloroquina contra a Covid-19, e com mais dados será possível saber qual seu real efeito contra a doença.

Esses remédios podem ser usados em pacientes com Covid-19 apesar de os estudos clínicos ainda estarem em andamento?

Sim, no modo off label, ou seja, fora da bula. Médicos podem indicar um remédio para outra indicação que não a prevista em sua bula desde que assumam os riscos e que os pacientes concordem com a prática.

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