Sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de fevereiro de 2025
Algumas pessoas acordam relembrando vividamente seus sonhos e podem contar histórias precisas, enquanto outras lutam para lembrar até mesmo um único detalhe. Por que isso acontece? Um novo estudo, conduzido por pesquisadores da Escola de Estudos Avançados de Lucca do IMT, e publicado na Communications Psychology, explora os fatores que influenciam a chamada “recordação dos sonhos” – a capacidade de lembrar os sonhos ao acordar – e descobre quais características individuais e padrões de sono moldam esse fenômeno.
A razão pela qual existe tanta diferença na recordação dos sonhos permanece um mistério. Alguns estudos descobriram que mulheres, jovens ou pessoas com tendência a sonhar acordado tendem a recordar melhor os sonhos noturnos. Mas outros estudos não confirmaram estas descobertas.
Outras hipóteses, como a de que os traços de personalidade ou as capacidades cognitivas contam, receberam ainda menos apoio dos dados. Durante a recente pandemia de covid, o fenômeno das diferenças individuais na recordação dos sonhos matinais atraiu renovada atenção pública e científica quando um aumento abrupto na recordação dos sonhos matinais foi relatado em todo o mundo.
A nova pesquisa, feita em colaboração com a Universidade de Camerino, na Itália, foi realizada entre 2020 e 2024 e envolveu mais de 200 participantes, com idades entre 18 e 70 anos, que registraram seus sonhos diariamente durante 15 dias, enquanto seu sono e dados cognitivos eram monitorados por meio de dispositivos vestíveis e testes psicométricos.
Cada participante recebeu um gravador de voz para relatar, todos os dias, logo após acordar, as experiências vividas durante o sono. Os participantes deveriam relatar se lembravam ou não de ter sonhado, se tiveram a impressão de ter sonhado, mas não se lembravam de nada da experiência, e descrever o conteúdo do sonho, caso conseguissem.
Durante o estudo, os participantes também usaram um actígrafo, um relógio de pulso de monitoramento do sono que detecta a duração, a eficiência e os distúrbios do sono. No início e no final do período de gravação dos sonhos, os participantes foram submetidos a testes psicológicos e questionários que medem vários fatores, desde níveis de ansiedade ao interesse pelos sonhos, propensão à divagação mental (tendência de desviar frequentemente a atenção da tarefa em questão para pensamentos não relacionados ou reflexões internas), até testes de memória e atenção seletiva.
Os resultados mostraram que a capacidade de recordar sonhos, definida como a probabilidade de acordar de manhã com impressões e memórias de uma experiência onírica, apresentou considerável variabilidade entre os indivíduos e foi influenciada por múltiplos fatores. O estudo revelou que as pessoas com uma atitude positiva em relação aos sonhos e uma tendência para divagar eram significativamente mais propensas a recordá-los. Os padrões de sono também pareciam desempenhar um papel crítico: os indivíduos que experimentavam períodos mais longos de sono leve tinham maior probabilidade de acordar com a memória dos seus sonhos.
Os participantes mais jovens apresentaram taxas mais elevadas de recordação de sonhos, enquanto os indivíduos mais velhos muitas vezes experimentaram “sonhos brancos” (uma sensação de ter sonhado sem recordar quaisquer detalhes). Isto sugere mudanças relacionadas à idade nos processos de memória durante o sono. Além disso, surgiram variações sazonais, com os participantes menor recordação de sonhos durante o inverno em comparação com a primavera, sugerindo a influência potencial de fatores ambientais ou circadianos.
“Nossas descobertas sugerem que a recordação dos sonhos não é apenas uma questão de acaso, mas um reflexo de como as atitudes pessoais, os traços cognitivos e a dinâmica do sono interagem”, explica o autor principal Giulio Bernardi, professor de psicologia geral na Escola IMT, em comunicado. “Esses insights não apenas aprofundam nossa compreensão dos mecanismos por trás dos sonhos, mas também têm implicações para explorar o papel dos sonhos na saúde mental e no estudo da consciência humana”.
“Os dados recolhidos neste projeto servirão de referência para futuras comparações com populações clínicas”, acrescenta Valentina Elce, investigadora da Escola do IMT e primeira autora do estudo. “Isso nos permitirá avançar na pesquisa sobre as alterações patológicas dos sonhos e seu potencial valor prognóstico e diagnóstico”.