Domingo, 20 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 19 de abril de 2025
Há algumas descobertas científicas que fazem muito mais do que avançar nosso conhecimento: elas criam uma mudança na nossa psique, à medida que nos mostram a dimensão do Universo — e nosso lugar nele.
Um destes momentos foi quando uma nave espacial enviou imagens da Terra pela primeira vez. Outro seria a descoberta de vida em outro planeta, um momento que parece estar mais perto de acontecer depois da notícia de que sinais de um gás, que na Terra é produzido por organismos marinhos simples, foram encontrados em um planeta chamado K2-18b.
Agora, a perspectiva de realmente encontrar vida alienígena — o que significa que não estamos sozinhos no Universo — não está muito distante, de acordo com o cientista que lidera a equipe que fez a detecção.
“É basicamente o máximo em termos de perguntas fundamentais, e podemos estar prestes a responder a essa pergunta”, diz Nikku Madhusudhan, professor do Instituto de Astronomia da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Mas tudo isso gera ainda mais perguntas, incluindo: se for encontrada vida em outro planeta, como isso vai nos mudar como espécie?
Discos voadores e alienígenas na ficção científica
Nossos ancestrais criaram há muito tempo histórias de seres que poderiam habitar os céus. No início do século 20, astrônomos acharam que podiam ver canais em linha reta na superfície de Marte, levantando a especulação de que um dos nossos planetas mais próximos poderia ser o lar de uma civilização avançada: uma ideia que gerou uma rica cultura de ficção científica, envolvendo discos voadores e pequenos alienígenas verdes.
Isso aconteceu em uma época em que os governos ocidentais propagavam o medo em relação à disseminação do comunismo, de modo que os visitantes do espaço sideral eram, na maioria das vezes, retratados como ameaça, trazendo perigo, em vez de esperança.
Mas, décadas depois, o que foi descrito como “a evidência mais forte até agora” de vida em outro mundo veio, não de Marte nem de Vênus, mas de um planeta a centenas de trilhões de quilômetros de distância, orbitando uma estrela longínqua.
Parte do desafio quando se trata de pesquisar a existência de vida extraterrestre é saber onde procurar.
Até relativamente pouco tempo atrás, o foco da busca da Nasa, a agência espacial americana, era Marte, mas isso começou a mudar em 1992 com a descoberta do primeiro planeta orbitando outra estrela fora do nosso Sistema Solar.
Embora os astrônomos suspeitassem da existência de outros mundos ao redor de estrelas distantes, não havia provas até aquele momento. Desde então, foram descobertos quase 6 mil planetas fora do nosso Sistema Solar.
Muitos são gigantes gasosos, como Júpiter e Saturno em nosso Sistema Solar. Outros são muito quentes ou frios demais para conter água líquida, considerada essencial à vida.
Mas muitos estão em uma zona que os astrônomos chamam de “Cachinhos Dourados”, em que a distância é “simplesmente perfeita” para abrigar vida. Madhusudhan acredita que pode haver milhares em nossa galáxia.
Tecnologia incrivelmente ambiciosa
À medida que esses chamados exoplanetas foram sendo descobertos, os cientistas começaram a desenvolver instrumentos para analisar a composição química de suas atmosferas. A ambição deles era impressionante, alguns diriam audaciosa.
A ideia era capturar a pequena quantidade de luz estelar que atravessava as atmosferas desses mundos distantes, e estudá-las em busca de impressões digitais químicas de moléculas que, na Terra, só podem ser produzidas por organismos vivos, as chamadas bioassinaturas.
E eles conseguiram desenvolver esses instrumentos para telescópios terrestres e espaciais.
O Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês) da Nasa, que detectou o gás no planeta K2-18b na descoberta desta semana, é o telescópio espacial mais poderoso já construído, e seu lançamento em 2021 gerou a expectativa de que a busca por vida extraterrestre estava finalmente ao alcance da humanidade.
Mas o JWST tem suas limitações — ele não consegue detectar planetas distantes tão pequenos quanto o nosso ou tão próximos de suas estrelas-mãe, por causa do brilho.
Por isso, a Nasa está criando o Observatório de Mundos Habitáveis (HWO, na sigla em inglês), previsto para a década de 2030, que será capaz de detectar e coletar amostras das atmosferas de planetas semelhantes ao nosso. (Isso é possível usando o que é efetivamente um escudo solar de alta tecnologia que minimiza a luz da estrela que o planeta orbita).
Também vai entrar em operação no final desta década o Telescópio Extremamente Grande (ELT, na sigla em inglês) do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês), que vai ficar em terra, observando o céu cristalino do deserto chileno.
Ele possui o maior espelho de todos os instrumentos já construídos, com 39 metros de diâmetro — e, por isso, consegue ver muito mais detalhes nas atmosferas planetárias do que seus antecessores.