Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 24 de junho de 2023
O líder do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Progojin, anunciou nesse sábado (24) que suas tropas estão retornando a suas posições um dia após iniciarem uma rebelião contra a cúpula militar do Kremlin. A decisão foi tomada após um processo de mediação negociado pelo presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, que disse ter alcançado um acordo com Vladimir Putin para evitar “um derramamento de sangue”. Ainda não está claro, contudo, se o acordo representa de fato um cessar-fogo definitivo.
A rebelião de Progojin contra o Kremlin começou na noite de sexta-feira, após o líder paramilitar afirmar que o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, ordenou o bombardeio contra posições do grupo na Ucrânia. Em represália, os mercenários cruzaram a fronteira de volta para a Rússia e, sem resistência, tomaram a cidade de Rostov-no-Don, onde assumiu o controle das instalações militares. O presidente Vladimir Putin acusou os mercenários de traição, e prometeu uma punição severa a todos, anunciando que havia dado as ordens necessárias ao Exército para restaurar a ordem.
Quem é Yevgeny Prigojin?
Por muito tempo, Yevgeny Prigojin ficou conhecido apenas por ser “o cozinheiro de Putin”, por oferecer serviços de catering ao Kremlin e manter uma relação próxima com o presidente russo. Com a invasão da Crimeia, em 2014, o oligarca ampliou suas operações, fundando o Grupo Wagner, uma companhia militar privada com atuação internacional.
Conterrâneo de Putin — os dois são nascidos em São Petersburgo —, Prigojin perdeu o pai ainda jovem, e teve uma juventude marcada por crimes no fim dos anos 1980, ainda na era soviética, pelos quais foi preso e condenado a 13 anos de prisão.
A virada para um dos homens mais poderosos na Rússia atualmente, de acordo com o jornal The Guardian, começou quando ele abriu uma barraquinha de cachorro-quente e deslanchou no setor, com participações em uma rede de supermercados. Em 1995, ele abriu restaurantes próprios, onde conheceu políticos e agentes da inteligência da Rússia. Foi no contato com o funcionalismo de Moscou, e com agentes do serviço secreto, que Progojin floresceu até criar o grupo Wagner.
Atualmente, ele é procurado pelo FBI sob acusação de “conspiração para defraudar os EUA”, por supostamente participar de ações que prejudicam a atuação de órgãos americanos como o Comitê Federal de Eleições, o Departamento de Justiça e o Departamento de Estado, entre 2014 e 2018. Washington oferece uma recompensa de US$ 250 mil (mais de R$ 1 milhão) para quem der informações que levem à prisão do líder do grupo Wagner.
O que é o grupo Wagner?
Criado no contexto da invasão da Crimeia, em 2014, o Grupo Wagner é uma empresa militar privada, que possui contratos ativos com Moscou e com outros países ao redor do mundo. Além da Crimeia, os paramilitares tiveram atuação em vários teatros de operação russa em países como Síria, Líbia, República Centro-Africana, Sudão, Mali e Moçambique.
Embora tenha quase uma década de fundação, o grupo ganhou notoriedade a partir da invasão da Ucrânia, em 2022, quando se tornou uma parte indispensável da ofensiva russa contra seus vizinhos de Leste Europeu. Diante das dificuldades encontradas pelas tropas regulares de Moscou para avançar no território ucraniano, por vezes os mercenários foram apontados como uma reserva de homens com experiência em combate e capazes de enfrentar missões difíceis no front.
O caráter privado do Wagner não impediu que o grupo recebesse concessões especiais para atuar na Ucrânia. A mais conhecida delas talvez tenha sido a autorização do Kremlin para que Prigojin recrutasse homens em prisões russas, enviando-os para o campo de batalha com a promessa de remir suas penas no país natal.
A um custo estimado, pelo próprio Prigojin, em cerca de 20 mil vidas, o Grupo Wagner foi fundamental para a conquista de alguns territórios pela Rússia em solo ucraniano, como Soledar e Bakhmut. A estratégia, no entanto, foi comparada por analistas a um “moedor de carne”, por enviar homens pouco equipados em direção às tropas ucranianas.
Militares vs. Mercenários
A relação com o governo não foi suficiente para impedir atritos entre os mercenários e a cúpula militar em Moscou. Ao longo do conflito, Prigojin entrou em confrontações públicas com o comando militar, alegando falta de apoio no campo de batalha e ausência de repasse de munições e suprimentos.
A influência do grupo sobre a ofensiva russa pareceu atingir o pico no final do ano passado, quando Prigojin atacou publicamente os nomeados do Kremlin na Rússia e influenciou na escolha do general que comandou a invasão por meses — Sergei Surovikin, um general de alto escalão com experiência na Síria e visto como um aliado. Atualmente, o comando é ocupado por Serguei Shoigu, desafeto de Prigojin.
O Kremlin tolerou a oposição interna de Prigojin enquanto ele permanecia combatendo, mesmo com análises internas apontando que ele estaria tentando transformar sua projeção em influência política.