Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 24 de janeiro de 2024
O Sol é bastante ativo e a melhor maneira de você pensar nele é como um líquido em ebulição.
Foto: Nasa/DivulgaçãoA Terra pode sentir os efeitos de uma tempestade solar nesta semana. De acordo com o Centro de Previsão de Tempo Espacial, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, múltiplas erupções no Sol foram identificadas. Embora o nome seja catastrófico e remeta a tramas cinematográficas, essas perturbações são mais comuns do que as pessoas imaginam, e, ao longo do tempo, dificilmente causaram problemas tão assustadores.
Especialistas brasileiros explicam que, de fato, o Sol passa por um pico de atividade neste ano, algo que ocorre, regularmente, a cada 11 anos. Isso não significa, porém que as tempestades sejam mais intensas, e sim que podem ocorrer com maior frequência. “2024 é um ano de máximo. O máximo anterior foi em 2013. Então é de se esperar diversas tempestades solares ao longo deste ano”, afirma Roberto Dell’Aglio Dias da Costa, professor do departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.
Na Terra, o efeito mais visível são as auroras boreais (fenômeno que provoca a mudança da cor do céu), e o que mais preocupa são as interferências em tecnologias que estamos acostumados a usar, como GPS e internet, que dependem de satélites, que são os principais afetados. É possível que atinjam linhas de transmissão de energia elétrica, com blackouts, mesmo que historicamente isso tenha ocorrido poucas vezes, além de causar efeitos na saúde de astronautas e viajantes transpolares.
O alerta para esta semana, afirmam, não é tão grave. “Me parece um alerta bem moderado pelo seguinte: eles preveem aurora boreal em latitudes altas do Canadá e do Alasca, não muito longe do normal”, fala o doutor em Física e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alexandre Zabot. “Quando a tempestade solar é muito grande, as auroras boreais começam a se aproximar e a serem visíveis do Equador. Há registro no Havaí, por exemplo.”
Como é o Sol?
Para entender melhor sobre esse fenômeno, o professor Zabot tenta desmistificar um pouco a maneira como se pensa sobre o Sol. “Em geral, as pessoas pensam nele como uma bola de gás quente estável. Na realidade, o Sol é bastante ativo e a melhor maneira de você pensar nele é como um líquido em ebulição.”
“Assim como você bota para ferver água e fica saindo aquelas bolhas na superfície da água, o Sol é um plasma e a a superfície dele é inteira nessa forma de bolhas. A superfície dele está sempre em ‘ebulição’”, completa. “Esse borbulhamento é chamado de atividade solar.”
Quem rege essa orquestra – que está mais para uma música de rock – da atividade solar é o campo magnético dessa estrela. Esse campo não é algo que visualizamos, mas, de certa maneira, entendemos ou conhecemos os seus efeitos, isto é, a força magnética. É só pensar num ímã e os movimentos de atração e repulsão que ocorrem.
As fontes dos campos magnéticos não são só imãs, mas também correntes elétricas, que é o caso do Sol. Como essa estrela é extremamente quente – a temperatura chega a atingir 5.800ºC aproximadamente na superfície – e o núcleo, de onde vem a energia dessa estrela, é muito turbulento, o campo magnético dele é muito variável, com uma inversão de polos a cada 11 anos, conforme explica Dias da Costa.
O que são?
“As tempestades solares são a consequência aqui na Terra das explosões solares”, resume o professor da USP Dias da Costa. Mas como isso chega até aqui com uma distância de cerca de 150 milhões de quilômetros para percorrer?
Luís Vieira, pesquisador da Heliofísica, Ciências Planetárias e Aeronomia do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o principal investigador da Missão Telescópio Espacial Solar Galileo (GSST), lembra que a energia do Sol saí do núcleo e é transportada até a superfície – onde ocorre aquele “borbulhamento” citado anteriormente. “E o movimento desse gás acaba gerando um fenômeno que se chama reconexão magnética.” Que, de maneira muito simples, é uma explosão, que pode ter diferentes manifestações.