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Por Redação O Sul | 11 de setembro de 2021
O mundo avança no combate ao coronavírus, com 5,6 bilhões de doses de vacinas aplicadas em todo o mundo até agora, segundo dados compilados pelo Our World in Data. A corrida pela imunização contra a covid-19 começou no fim de 2020 – um ano após o surgimento desse vírus.
E, a esta altura do ano, já foi possível vacinar pouco mais de 40% da população mundial com pelo menos uma dose das diversas vacinas. No entanto, de acordo com a OMS, em países de baixa renda, apenas 1,9% das pessoas receberam uma dose.
Além da desigualdade de recursos para comprar vacinas, outro obstáculo à imunização global tem sido a série de problemas enfrentados pelos fabricantes de vacinas.
Desde temores de efeitos colaterais adversos, que levaram alguns países a limitar o uso de certas vacinas, até dificuldades na produção de inoculações devido à escassez global de suprimentos, que têm causado graves atrasos no fornecimento.
Como solução parcial para esses problemas, vários países tentaram combinar diferentes vacinas.
A maioria das vacinas contra a covid requer duas doses (com exceção da Janssen, feita pela Johnson & Johnson, e da Sputnik Light, da Rússia, que são de apenas uma dose).
E, exceto pela Sputnik V, que usa dois componentes diferentes, as demais têm duas doses iguais, o que levou várias nações a pesquisar possíveis combinações.
A vacinação heteróloga – esse é seu nome científico – não é novidade. A mistura de vacinas começou na década de 1990 para combater outro vírus: o HIV, que causa a Aids.
Pesquisas realizadas até agora com algumas vacinas contra a covid-19 mostraram que trocá-las não só é possível, mas em muitos casos é até recomendado.
De acordo com esses estudos, combiná-las não só daria um impulso significativo ao esforço global de vacinação, mas também poderia oferecer melhor proteção contra o coronavírus.
1) O que se sabe até agora?
Talvez a vacina mais estudada em combinação com outras seja a AstraZeneca, também conhecida como AZ.
Pesquisadores da Universidade de Oxford, que criaram esta vacina, investigam desde fevereiro de 2020 a eficácia dela quando usada em conjunto com outras.
O aparecimento de coágulos sanguíneos em um pequeno número de pessoas que tomaram a AstraZeneca levou vários países, que já haviam administrado a primeira dose a centenas de milhares de cidadãos, a decidirem não usar a segunda para determinadas faixas etárias.
Isso acelerou a necessidade de combinar a vacina britânica com outras.
A primeira pesquisa da Universidade de Oxford, conhecida como “Com-COV1”, estudou os efeitos da combinação da AstraZeneca com Pfizer em 850 voluntários com mais de 50 anos de idade.
Essas vacinas usam duas plataformas diferentes para combater o vírus. A AstraZeneca usa vetor viral (adenovírus de chimpanzé atenuado) e a Pfizer usa o RNA mensageiro (ou mRNA), que tem uma pequena sequência genética criada em laboratório que “ensina” as próprias células do corpo humano a se protegerem contra o Sars-CoV-2.
Resultados
Os resultados preliminares do estudo Com-COV1, publicado no final de junho, foram altamente promissores.
A combinação de uma primeira dose de AstraZeneca e uma segunda dose da Pfizer gerou mais anticorpos e células T (as células imunes que matam os patógenos) do que usar dois componentes de AstraZeneca.
E usar a Pfizer primeiro e depois a AstraZeneca também foi mais benéfico do que usar a vacina britânica duas vezes (embora não tão eficaz quanto usá-las na ordem inversa).
Embora os testes tenham mostrado que o uso de duas doses de Pfizer gerou o maior número de anticorpos, o uso da AstraZeneca primeiro e depois da Pfizer provocou uma resposta mais forte das células T, que é chave para combater a infecção.
Outros países que realizaram seus próprios testes chegaram a conclusões semelhantes.
Antes mesmo de os resultados serem conhecidos no Reino Unido, a Espanha já havia começado a combinar AstraZeneca com Pfizer, e as conclusões preliminares da fase 2 do estudo CombiVacs, realizado pelo Instituto de Saúde Carlos III, publicado em maio, também mostraram a eficácia desta mistura.
O ensaio espanhol, do qual participaram 676 pessoas entre 18 e 59 anos que receberam a primeira dose de AstraZeneca, concluiu que, com uma segunda dose de Pfizer, os anticorpos eram mais do que o dobro que os gerados por duas doses de AstraZeneca.
A segunda dose – também chamada de reforço – geralmente multiplica os anticorpos por três quando a AstraZeneca é aplicada duas vezes.
Se a Pfizer for usada como o segundo componente, a multiplicação é por sete, segundo o resultado do estudo espanhol.
No final de julho, outro ensaio clínico investigando a combinação AstraZeneca e Pfizer, desta vez na Coreia do Sul, confirmou os benefícios dessa mistura.
O estudo, que incluiu 499 profissionais de saúde, concluiu que a combinação de AstraZeneca com Pfizer gerou níveis seis vezes maiores de anticorpos neutralizantes do que o uso de duas doses de AstraZeneca.