Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 28 de janeiro de 2024
Uma acusação feita por Israel de que funcionários da UNRWA – a agência da ONU que dá assistência a refugiados palestinos – teriam tido envolvimento nos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023 desencadeou uma investigação interna, demissões e reações dos Estados Unidos.
Ao anunciar sua decisão de temporariamente suspender o financiamento da UNRWA, o Departamento de Estado americano afirmou estar “profundamente apreensivo” com as acusações de suposto envolvimento de pessoal da ONU nos ataques.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, se disse “estarrecido” com a acusação e pediu uma investigação rápida. O chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, declarou que, a partir das informações de Israel, colocou diversos funcionários sob investigação e demitiu alguns deles.
“Para proteger a habilidade da agência de oferecer assistência humanitária, eu decidi rescindir imediatamente o contrato desses funcionários e lançar uma investigação para estabelecer a verdade, sem demoras”, afirmou Lazzarini em comunicado.
Mais tarde, em um comunicado ele protestou contra o que chamou de “chocante” suspensão de fundos.
“Especialmente tendo em conta a ação imediata que a UNRWA tomou ao rescindir os seus contratos e solicitar uma investigação independente e transparente. Seria imensamente irresponsável sancionar uma agência e toda uma comunidade que ela serve por causa de alegações de atos criminosos contra alguns indivíduos”, afirmou Lazzarini.
Corte nas doações
A Casa Branca afirmou que determinará seus próximos passos com base no “resultado de uma ampla e completa investigação”. Reino Unido, Alemanha, Itália, Países Baixos, Suíça, Finlândia, Austrália e Canadá juntaram-se a Estados Unidos e congelaram o financiamento até que termine a investigação a trabalhadores da agência suspeitos de ajudar o Hamas no ataque contra Israel.
EUA, Alemanha e o bloco da União Europeia estão entre os maiores doadores da UNRWA. A agência provê educação, serviços de saúde e ajuda humanitária a palestinos em Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Síria e Líbano, mas diz enfrentar crescentes dificuldades em assistir a quase 75% da população de Gaza, que foi deslocada pelo conflito dos últimos meses.
O secretário-geral das Nações Unidas pediu aos países que continuem a financiar a principal agência de ajuda em Gaza.
Antonio Guterres advertiu que a agência da ONU para refugiados palestinos seria forçada a reduzir a ajuda para mais de 2 milhões de palestinos em fevereiro. O enclave costeiro atravessa uma grave crise humanitária, com um quarto da população a enfrentar falta de alimentos.
Estruturas físicas da ONU onde moradores de Gaza se abrigavam foram atingidas por ataques aéreos israelenses. Na última quinta-feira (25), 12 pessoas morreram quando um abrigo da ONU foi bombardeado em Khan Younis, no sul de Gaza.
Acusações de Israel
Mark Regev, conselheiro do governo de Israel, disse à BBC que “pessoas recebendo salários” da UNRWA se envolveram no ocorrido em 7 de outubro e que professores que trabalham em escolas da agência “celebraram abertamente” os ataques do Hamas.
Ele também se referiu a uma refém israelense que, quando foi libertada, afirmou ter sido mantida em cativeiro “na casa de alguém que trabalhava para a UNRWA”.
“Eles têm um sindicato que é controlado pelo Hamas, e acho que já passou da hora de a ONU investigar esses elos entre a UNRWA e o Hamas”, disse Regev.
Ao pedir uma investigação do caso, António Guterres afirmou que qualquer empregado da agência que comprovadamente tenha “participado ou auxiliado” no episódio de 7 de outubro será demitido e encaminhado para uma denúncia criminal.
A UNRWA tem 13 mil funcionários em Gaza, quase todos palestinos, desde professores em escolas até médicos e outro pessoal auxiliar e trabalhadores humanitários.