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Ali Klemt O rastro incontornável

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Até que ponto cada um de nós se julga insubstituível?(Divulgação)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

E se você sumisse por cinco anos e retornasse igual, igualzinho, que mundo você encontraria? Quais são as possíveis mudanças nas vidas de todos que te circundam com a sua partida?

Esse é o mote de “Manifest”, um seriado que nem é tão novo assim – é lá de 2018, ou seja, pré-pandemia (logo, quando a nossa perspectiva coletiva acerca da iminência da morte era outra). A sinopse é basicamente essa, com um grupo de pessoas que passa por uma enorme turbulência em um avião e, ao pousar, descobrem terem voltado para o seu mundo…só que cinco anos depois.

Ficção cientifica? Suspense militar? Não foi isso que me envolveu, mas, sim, as consequências emocionais de todos os envolvidos. E, se você se interessou, pare a leitura agora, porque vai ser uma profusão de spoilers daqui pra frente.

Partindo do óbvio, há os dilemas amorosos. A vida segue. Simples assim. Você se pega pensando até que ponto cada um de nós se julga insubstituível. E, quer saber? Nós somos, de fato, insubstituíveis, mas há oito bilhões de possibilidades no mundo (sabia que a Terra agora tem oito milhos de habitantes?), e o fato é que todo mundo ama amar. Você pode estar bem sem um par romântico, sem dúvida alguma. Mas se o amor aparecer, vai te iluminar e te dar ainda mais forças. O amor sempre agrega, e seria egoísmo esperar diferentemente: perder o objeto do seu amor dói, essa pessoa terá sempre o seu espaço no coração, mas você supera e encontra a felicidade.

O mesmo não se pode dizer da perda de um filho. A dor mais profunda que um ser pode ter, a cicatriz que jamais vai sarar. O que há de mais anti-natural na natureza: a amputação da sua continuidade, o corte profundo no coração. Só de assistir a uma história ficcional da perda de um filho eu, como mãe, sofro. Sequer consigo mensurar a possibilidade de tamanho sofrimento. É uma carga que jamais aguentaria, e me toca profundamente a forma como algumas pessoas conseguem não apenas superá-la, mas ainda fazer dela um propulsor para o bem. Essas pessoas são sobre-humanas, porque, ainda assim, conseguem transmutar e fazer da perda algo…bom.

E, saindo do plano emocional, há as mudanças culturais, científicas e tecnológicas que acontecem ao nosso redor de forma tão acelerada que a gente sequer percebe! Você já parou para pensar que, há 20 anos, o uso de telefones celulares não era sequer popularizado? A medicina moderna vem fazendo verdadeiros milagres: alguns anos de espera podem salvar a sua vida. Ao olhar para trás, percebemos que simplesmente não é possível querer comparar o nosso mundo com o de algumas décadas. É impossível partir das mesmas premissas.

Jogando isso tudo em um caldeirão de ideias, é inarredável a conclusão de que o que realmente importa é apenas o presente. A vivência de cada momento ao lado de quem a gente ama. A percepção dos sentidos. A criação de memórias que, ainda assim, vão se esvanecer no tempo. Porque tudo se vai, em algum momento.

E o que fica? Fica o amor. Fica o legado que passaremos adiante. Fica a nossa marca nesse mundo – mesmo que do nosso nome, do nosso cheiro, da nossa história se esqueçam. Porque isso vai acontecer, está tudo bem. Mas alguma coisa, alguma coisinha nossa, seja um fragmento de DNA, seja um ensinamento passado adiante…algum rastro deixaremos. Basta definir se o seu será de brilho ou de sombras.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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