Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Dennis Munhoz | 15 de novembro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O resultado das urnas foi diferente da esmagadora maioria das pesquisas realizadas por conceituados institutos e empresas de comunicação dos Estados Unidos. Até a abertura das urnas as pesquisas apontavam Kamala com leve vantagem sobre Trump, para alguns dentro da margem de erro, para outros a eleição de Kamala estava praticamente garantida.
A vitória de Trump, tanto no número de delegados como no voto popular foi superior à prevista, inclusive em redutos democratas, sindicais e áreas mais pobres. Na eleição de 2.016, quando Trump venceu Hillary Clinton, ganhou no número de delegados mas não recebeu a maior votação popular. Nesta eleição Trump recebeu 5 milhões de votos a mais que Kamala. O Partido Republicano recuperou o controle do Senado e muito provavelmente manterá a maioria da Câmara dos Deputados. Elegeu mais Governadores e Senadores que os democratas. Qual o motivo? Qual o recado?
Após a fraca participação do Presidente Biden no primeiro debate, Kamala assumiu a responsabilidade de trazer ao eleitor do partido a segurança e competência administrativa tão esperadas, bem como tentou estrategicamente desvincular-se da administração Biden, da qual é Vice Presidente e corresponsável por muitas falhas, principalmente às relacionadas à imigração, tema que encabeçava a preocupação de muitos eleitores. Ela foi designada por Biden para cuidar diretamente dos problemas imigratórios há mais de três anos, principalmente os da fronteira com o México e pedidos de asilo. Foi catastrófica a atuação. O problema foi agravando-se mês a mês e continua muito sério e sem alternativas a curto prazo. Muitos estadunidenses que eram simpáticos à imigração começaram a perceber que seus empregos e garantias sociais estavam nas mãos de imigrantes, e o dinheiro dos impostos destinados a planos de saúde, moradia e manutenção de imigrantes com pedido de asilos. Até Estados e cidades “santuários” para imigrantes ficaram sobrecarregadas, pessoas morando nas ruas, aumento da pobreza e insegurança.
É lógico que estes problemas não ocorreram exclusivamente pela frágil política imigratória, todavia Trump soube explorar como ninguém esta ferida aberta, chegando até dizer que imigrantes estavam comendo animais de estimação sem nenhuma confirmação pelas autoridades. A inflação recorde dos últimos 40 anos também foi combustível muito explorado pelos republicanos. A administração Biden/Kamala menosprezou este “dragão” e saíram queimados. Logo após a pandemia COVID-19 a inflação alcançou 9,1% ao ano, sendo que no último ano da administração Trump era inferior a 2%. Atualmente está em 2,8% ao ano mas as sequelas deixadas foram enormes. O custo de vida aumento muito nos Estados Unidos e a população de menor poder aquisitivo acaba sofrendo mais. Pesquisas apontaram que para quase metade dos eleitores a situação de 2.024 era pior que a de 2.020, demonstrando que os discursos e compromissos sociais e de crescimento adotados pelo Partido Democrata não funcionaram. Trump conseguiu muitos votos em cidades e Estados que não votaram nele em 2.020.
Os escândalos e processos, inclusive com várias condenações não foram suficientes para abalar significativamente a candidatura Trump, ou seja, ficou claro que quando a vida do eleitor estava melhor com ele há quatro anos atrás tudo mais fica em segundo plano. A popularidade do governo Biden atingiu níveis extremamente baixos e Kamala não conseguiu ficar imune. Trump terá o controle do Senado e muito provavelmente também da Câmara dos Deputados, pelo menos nos dois primeiros anos e isto facilitará muito sua tarefa em implementar as mudanças prometidas. Ele não poderá ser reeleito em 2028 porque a Constituição permite apenas a eleição e uma única reeleição, fato que impediu que Barack Obama fosse novamente candidato. Faz alguns meses que abordamos os problemas internos do Partido Democrata quando afirmamos que eram muito mais sérios que a substituição de Joe Biben por Kamala. Não há renovação no partido e perdeu-se o discurso entre os eleitores negros, latinos, sindicatos e população mais pobre. Não adianta continuar a agradar intelectuais, artistas e boa parte da imprensa enquanto o eleitor está muito mais preocupado em pagar sua hipoteca, seguro saúde, impostos, aumento da violência e custo de vida. Até mesmo alguns sindicatos apoiaram Trump ou ficaram sem manifestar apoio a Kamala.
(Dennis Munhoz – advogado, jornalista e correspondente internacional da Rede Mundial e da Rádio Pampa)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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