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Colunistas O renascimento das políticas industriais

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Não há nada tão inútil quanto fazer eficientemente o que não deveria ser feito. A frase de Peter Drucker, um dos mais consagrados pensadores do management mundial, deveria ser levada bastante a sério por aqui, especialmente pelo hábito de, muitas vezes, conjugarmos o vício de fazer a coisa errada, com o modo também errado de execução. Isso, naturalmente, não justifica deixar de pensar o País que queremos construir, mas torna nossas escolhas estratégicas sujeitas a um escrutínio mais rigoroso, dado não apenas nossos cacoetes persistentes de incúria no trato da coisa pública, mas também a enorme urgência para que trilhemos o rumo do desenvolvimento sustentável. Milhões de brasileiros, hoje ainda invisibilizados pelo abandono de políticas públicas e jogados à miséria, à fome, à violência e à humilhação diária, reclamam por medidas que tirem o Brasil da eterna condição de país do futuro.

Nesse sentido, é positivo o anúncio do plano de governo para a indústria nacional. De fato, há poucos casos de países que atingiram o pleno desenvolvimento sem contar com uma robusta e inovadora base industrial. O anúncio das medidas, não obstante as prudentes críticas quanto a alguns aspectos vinculados à volta de medidas protecionistas, como a exigência de conteúdo local para determinados tipos de fornecedores, traz em contrapartida também o mérito de romper com a inércia das últimas décadas. Essa incapacidade de planejar o futuro está na raiz do capitalismo periférico que nos acomete e impede a nossa plena inserção na nova matriz competitiva que molda a economia global.

O leque de instrumentos de intervenção anunciados no sentido de apoiar a indústria nacional é amplo e engloba a utilização de empréstimos direcionados, subvenções, créditos tributários, participação acionária, requisitos de conteúdo local, comércio exterior, margens de preferência, transferência de tecnologia, propriedade intelectual, infraestrutura da qualidade, regulação, encomendas tecnológicas, compras governamentais e investimentos públicos. Esse arsenal de ações será direcionado para as cadeias agroindustriais, o setor da saúde, infraestrutura, saneamento, moradia, mobilidade urbana, transformação digital da indústria, bioeconomia, descarbonização, transição energética, soberania e defesa nacionais. Mais do que deter os meios e escolher os fins, entretanto, tudo sugere que será na forma de implementação das medidas que se encontra o maior desafio.

Além da preocupação com a execução daquilo que está sendo planejado, iremos nos deparar com antigos problemas de nossa economia e que, justamente afloram nos momentos em que é preciso mobilizar recursos humanos e materiais. Nessa linha, conspiram em desfavor do necessário otimismo para colocar em pé as medidas contidas na nova política industrial nosso baixo nível de poupança interna, educação precária de nossa força de trabalho, baixos níveis de produtividade e uma inserção ainda tímida de nossa economia junto ao mundo globalizado. O enfraquecimento da OMC e a volta do protecionismo pós-pandemia também pode ser um entrave importante nesse momento em que se busca melhorar as condições de nossa indústria.

Na parte cheia do copo, contudo, abre-se, a partir desse maior protagonismo estatal e desde que aventuras fiscais não sejam a base para financiar os projetos, uma necessária modernização de nossa indústria, particularmente num momento crucial de remodelação das cadeias produtivas globais. As transformações impostas pela emergência e consolidação da Inteligência Artificial, notadamente as formas generativas em curso, conferem urgência às adaptações das empresas, já submetidas à competição inédita em escala e profundidade. Como exposto na introdução deste artigo, o sucesso de uma política industrial pensada de forma inteligente e bem implementada, pela própria interconexão desse setor com outras partes de nossa economia, poderá ensejar ganhos sistêmicos ao conjunto da sociedade, mas tudo depende de jogar o jogo certo da forma correta.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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