Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Tito Guarniere | 26 de dezembro de 2021
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O Fies (Financiamento Estudantil) é um programa do PT, fortemente expandido durante o governo Dilma. Ele diz muito da forma como o PT vê os recursos públicos, os limites orçamentários. Além, o Fies escancara o modo como o PT considera os seus concidadãos, o papel que o partido se reserva na condução do Estado e na formulação e prática de suas políticas públicas.
Não há palavra de Lula – ou dos petistas – no sentido de estimular as pessoas ao esforço individual, à saudável ambição de crescer e melhorar de vida. Ao invés, o petismo sempre deixou subjacente a ideia de que a melhoria de vida dos trabalhadores é uma missão, senão um “dever de Estado”, que tudo providencia e provê.
O PT, certa esquerda, vai além para “desmerecer o mérito”, tomando-o como uma cavilosa armadilha dos donos dos meios de produção, para melhor explorar o povo. Ou acusando o mérito (a meritocracia) de fator decisivo no aumento das diferenças sociais.
Nos meios acadêmicos de esquerda a meritocracia é duramente combatida, porque ela não garante “vencer na vida”. E não garante mesmo. Mas é no mínimo intelectualmente desonesto não reconhecer que os trabalhadores mais focados, estudiosos, engajados no seu ofício e profissão, entretanto, tendem exponencialmente a ser melhor sucedidos do que os desinteressados e dispersivos.
Os acadêmicos sequer se lembram que se tornaram professores da universidade pública (com todas as suas vantagens materiais e com todo o status de reconhecimento) por… mérito. O que é o concurso senão uma aferição de mérito?
O recado que passam ao distinto público, negando o valor do empenho pessoal e do foco, é claro: não se esforcem tanto, porque esse esforço é inútil, dele só vai resultar mais ganhos para os capitalistas. Você não sai da armadilha da pobreza sem nós (da esquerda). Esperem por nós: no poder, faremos todas as concessões, que em tudo lhes permitirá uma vida mais decente e melhor.
O progresso social, portanto, é obra do Estado, de um governo comprometido com os trabalhadores, com os mais pobres. Do esforço individual, do mérito da persistência e da superação pessoal, nada virá.
Foi nessa concepção particular de mundo que o Fies foi bolado. Não havia nenhum critério de seleção – bastava estar matriculado em universidade privada. Não contava a posição da instituição de ensino no ranking. Não precisava nota mínima para a concessão do crédito. Não havia obrigação de apresentar avalista ou fiador. As universidades, livres de qualquer coobrigação em caso de inadimplência, encheram as burras de dinheiro com o programa.
Os índices de inadimplência explodiram. E depois que Lula, candidato favoritíssimo à presidência, prometeu perdoar as dívidas do programa, ninguém mais vai pagar.
O tamanho do rombo? Cerca de R$ 130 bilhões, jogados nos muitos ralos por onde drenam os recursos públicos e que – estes sim – fazem falta para melhorar a saúde, o ensino, a segurança dos brasileiros, principalmente os mais pobres.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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