Quinta-feira, 19 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 4 de outubro de 2017
Além de ser fundamental para manter o bem-estar do organismo e garantir o bom desempenho da função cardíaca, o sono ajuda o cérebro a se organizar, segundo um novo publicado na revista científica “Nature Communications”. Durante esse período de descanso o cérebro se reorganiza e se adapta às novas experiências — o que pode ter impacto sobre a memória e aprendizagem.
Esta é a primeira vez que uma pesquisa explica como estruturas ligadas à consolidação de memórias e adaptações trabalham durante o sono e o que mais acontece no cérebro enquanto dormimos, um processo que permite o armazenamento de informações recém-adquiridas.
O trabalho identificou que, em descanso, a atividade nos dendritos — uma região específica dos neurônios — se intensifica. A estrutura é fundamental para a plasticidade do cérebro, ou seja, a capacidade do sistema nervoso de mudar e atender às novas demandas. De acordo com a pesquisa, esse aumento no desempenho dos dendritos está ligado, à ocorrência dos chamados “fusos”, ondas cerebrais que são emitidas quando dormimos e que influenciam na formação de memórias.
“Os fusos do sono foram associados à formação de memória em seres humanos por algum tempo, mas ninguém sabia o que eles realmente estavam fazendo no cérebro. Agora sabemos que durante os fusos, caminhos específicos são ativados em dendritos, talvez permitindo que nossas memórias sejam reforçadas durante o sono”, afirma Julie Seibt, pesquisadora da Universidade de Survey, que lidera o estudo.
Durante a pesquisa, os cientistas analisaram, em ratos, os níveis de íons Cálcio nos dendritos — que sinalizam a atividade em curso na estrutura celular — e mediram a frequência de fusos por meio de um eletroencefalograma. Dessa maneira, os pesquisadores observaram que o aumento do fluxo elétrico nos dendritos coincide com maior índice de ocorrência de fusos. Nessas condições, acontece o processo de reorganização cerebral a partir das novas experiências.
“Nossos cérebros são órgãos incríveis e fascinantes, têm a capacidade de mudar e se adaptar com base em nossas experiências. Está cada vez mais claro que o sono desempenha um papel importante nessas mudanças adaptativas e nosso estudo mostra que uma grande proporção dessas mudanças pode ocorrer durante os fusos”, explica Seibt.
Tratamento de demência
Segundo o estudo, a descoberta pode ajudar a promover o desenvolvimento de técnicas mais eficazes para lidar com problemas mentais graves, como a demência.
“Em um futuro próximo, as técnicas que permitem a estimulação cerebral, como a estimulação magnética transcraniana, poderão ser utilizadas para estimular dendritos com a mesma faixa de frequência que os fusos. Isso pode levar a melhorar as funções cognitivas em pacientes com transtornos de aprendizagem e memória, como a demência”, diz a pesquisadora.
Estudos anteriores já tinham relacionado características do sono com a possível ocorrência de demência. Uma pesquisa da NYU (Universidade de Nova York) indicou que pessoas idosas que têm apneia do sono, comumente marcada por ronco pesado, tendem a apresentar o início de um declínio cognitivo cerca de 10 anos antes do que aquelas sem o problema.