O britânico Steven Gallagher, de 48 anos, foi o primeiro a receber um transplante duplo de mãos para tratar a esclerodermia, uma doença autoimune que provoca uma inflamação e enrijece a pele e os órgãos de determinadas partes do corpo.
No caso de Steven, a condição levou à perda dos movimentos nas mãos, com os dedos travados em formato de punho. Porém, a cirurgia inovadora, embora arriscada, performada no Leeds Teaching Hospitals, na Inglaterra, foi capaz de devolver ao menos parte do controle dos membros.
A operação, realizada em dezembro do ano passado, durou 12 horas e envolveu uma equipe de 30 profissionais. O procedimento envolveu a retirada das mãos de Steven e a substituição pelos membros de um doador. Atualmente, cinco meses depois, o time do Leeds Teaching Hospitals comemora o sucesso da cirurgia. “Sinto que as mãos fazem parte de mim”, comemorou Steven em comunicado do hospital.
Mesmo que não tenha recuperado todos os movimentos, o transplante mudou a vida do britânico e abriu “toda uma nova área de intervenção (médica) para pessoas com a doença”, escreveram os especialistas.
“Fazer um transplante de mão é muito diferente de um transplante de rim ou outro órgão, pois as mãos são algo que vemos todos os dias e as usamos de muitas maneiras. Por isso, nós e nossos psicólogos clínicos especialistas avaliamos e preparamos os pacientes, para ter certeza de que eles serão capazes de lidar psicologicamente com a lembrança permanente de seu transplante e o risco de o corpo rejeitar as mãos transplantadas”, explicou o professor Francesco Del Galdo, diretor do Leeds Teaching Hospital NHS Trust, um dos centros nacionais para o tratamento da esclerodermia.
Steven conta que há cerca de 7 anos a doença começou a fazer com que seus dedos se curvassem e a pele das mãos se tornasse mais apertada. Embora tenha buscado diversas terapias, o quadro apenas piorou. Em determinado momento, o britânico conseguia usar apenas os seus dedões e sentia muita dor, recorrendo a uma série de analgésicos. O quadro afetou sua vida em diversos aspectos, levando inclusive à impossibilidade de trabalhar.
“Quando o transplante de mãos foi mencionado pela primeira vez, achei que parecia improvável, mas já não podia usar minhas mãos naquele momento e senti que não tinha nada a perder (…) Não fiquei desanimado com o risco de perder minhas mãos, pois elas estavam ficando muito piores e já era como não ter mãos” disse Steven, em comunicado.
A ideia veio depois que ele assistiu a uma palestra do professor Del Galdo sobre esclerodermia em que o especialista falava sobre a possibilidade de a cirurgia ajudar a reverter certos quadros da doença.
“Lá eu mencionei que a cirurgia plástica às vezes pode ajudar a aumentar a função da mão para um número relativamente pequeno de pessoas que sofrem desse tipo de esclerodermia. Steven, que estava na palestra, entrou em contato com a equipe do cirurgião plástico professor Andy Hart, em Glasgow, para ver se algo poderia ser feito para ajudar a restaurar suas mãos”, conta Del Galdo.
O time do professor Andy Hart fez uma extensa avaliação e direcionou Steven para o Leeds, onde poderia ser feito o procedimento. A avaliação para o processo, tanto física como psicológica, é complexa e durou cerca de dois anos. Ao fim desse período, um doador foi encontrado com mãos que eram compatíveis às de Steven.
“Tenho muito mais movimento agora do que tinha (antes), posso mover todos os meus dedos. Estou exercitando e alongando eles. Vou à fisioterapia duas vezes por semana e sinto que as mãos fazem parte de mim. (…) Eu tive muito mais movimento depois de apenas seis semanas do que antes da operação e minha pontuação de dor foi para zero”, celebra Steven.