Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de junho de 2020
Capitaneado pelo vice-presidente Hamilton Mourão, um grupo de ministros começou, na segunda-feira (29), a elaborar uma estratégia de comunicação para melhorar a imagem do Brasil no exterior. A ideia é preparar respostas a uma carta redigida por investidores de nove países que, juntos, administram US$ 3,7 trilhões, demonstrando preocupação com uma série de temas relacionados ao governo brasileiro, como o desmatamento da Amazônia.
A correspondência foi encaminhada há uma semana a diplomatas brasileiros.
Entre os participantes da reunião com Mourão estavam os ministros da Agricultura e da Casa Civil, Tereza Cristina e Braga Neto; e os presidentes do Banco Central e da Agência de Promoção de Exportações (Apex), Roberto Campos Neto e Ricardo Segóvia. Caberá a Campos Neto fazer a ponte entre esses investidores – parte deles fundos de pensão – e o governo brasileiro.
Embora o presidente Jair Bolsonaro afirme com certa frequência que há desinformação em relação ao Brasil, dentro do próprio governo existe a convicção de que existe um problema de comunicação interna, que acaba arranhando a imagem do País lá fora, especialmente a do agronegócio.
Outra constatação é de que as críticas deixaram de partir de organizações não governamentais (ONGs) e passaram a ser feitas por atores que decidem para onde vão os investimentos, em um momento de desaquecimento da economia mundial. Essa percepção já havia sido notada, há alguns meses, no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.
Além da pressão de investidores, o Brasil tem sido alvo de críticas de governos parceiros na questão ambiental. Na segunda, o presidente da França, Emmanuel Macron, suspendeu discussões sobre livre comércio entre Mercosul e União Europeia em parte por causa postura do governo brasileiro em relação ao tema.
A Amazônia é um dos temas delicados a serem tratados com os investidores – que na carta chegaram a pedir reuniões com representantes do governo brasileiro. Ainda mais em uma época de estiagem, propensa a queimadas na floresta, como ocorreu em meados do ano passado, quando o Brasil foi alvo de críticas no mundo inteiro.
O peso de Mourão nesses debates se deve, principalmente, ao fato de ele ser presidente do Conselho Nacional da Amazônia.
Comentários de Salles
A mensagem que será transmitida é que as autoridades brasileiras, com o apoio das Forças Armadas, estão se antecipando para evitar a propagação de incêndios e a expansão do desmatamento ilegal. E, em, defesa do agronegócio, será reforçado o argumento de que mais de 60% da vegetação nativa do Brasil são preservados.
Outra preocupação demonstrada na carta diz respeito ao projeto de lei que trata da regularização fundiária, apelidado de “PL da Grilagem”, somado aos comentários do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre aproveitar a pandemia para “passar a boiada”.
A fala de Salles está no contexto de uma reunião ministerial realizada em abril último, que foi tornada pública por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello.
De acordo com uma fonte, a tarefa é explicar aos investidores que a regularização fundiária não tem o objetivo de abrir reservas indígenas à mineração. A ideia é titular a terra, para atribuir responsabilidades, ou seja, identificar o proprietário, para que este possa ser punido em caso de infrações.