Terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Por Carlos Alberto Chiarelli | 14 de novembro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Era um menino alto, da turma do 2º ano científico do Colégio Municipal Pelotense. Grupo jovem que tinha pouco mais de 30 alunos (maioria) e alunas. A turma era majoritariamente formada por jovens de famílias de classe média. Havia pais, que estudavam acompanhando os filhos e estimulavam a competição entre os alunos em função das notas. Às vezes – em especial, no início da semana – necessitavam que, por meio de uma advertência sem gritos, mas bem fundamentada, os fizessem entender que nem todos os dias eram a segunda-feira posterior ao fim de semana, quando tinham muitas coisas a contar uns para os outros.
Ele se chamava Ambrósio. Eu era o professor de Português, com 22 anos; ele, aluno de 17. Garoto educado, que gostava de perguntar, inclusive nos recreios, ininterruptamente. O tempo passou, e ele cursou a faculdade de odontologia. Foi exitoso. Estudioso, conseguiu formar-se e se tornar um respeitável dentista. Logo, habilitou-se, também, na docência de química, com a qual tinha um prestígio reconhecido pelos alunos.
Fanáticos torcedores e conselheiros do Pelotas, ele insistia em me telefonar para comemorar as vitórias – mesmo quando eu estava em Brasília – e dividir lamentos quando o time tinha sido derrotado. E é assim que, quando virei político, ele, imediatamente, fez-se solidário partidário. De outro lado, na etapa em que éramos professores do Colégio Pelotense, desfrutávamos das manhãs de domingo, acreditando que jogávamos bem futebol de salão. E, talvez, até porque nós mesmos escalávamos o time de professores do Colégio, decretamos que a zaga titular da equipe de mestres éramos nós dois, sem admitir discussão a respeito.
Enfim, não posso omitir a figura virtuosa de sua esposa, e também minha aluna quando estudava para assistente social, na Católica. Neste domingo, que não podia ser mais cinzento, recebi a notícia de que o valioso amigo, que há um bom tempo lutava com problemas cardíacos, fora vencido pela doença. Chovia quando me deram a notícia. Fui ao cemitério, pleno de tristeza. O Amigo – com A maiúsculo –, aos 78 anos, falecera.
Numa época em que ninguém confia em ninguém, Ambrósio foi pós graduado em lealdade.
Vai fazer muita falta o companheiro (zagueirão).
Carlos Alberto Chiarelli foi ministro da Educação e ministro da Integração Internacional.
E-mails para carolchiarelli@hotmail.com
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