A obesidade infantil no Brasil é um desafio urgente e crescente. De acordo com previsões alarmantes, até 2035, mais da metade das crianças no país estará obesa ou com sobrepeso. Este cenário destaca a necessidade de ação imediata, tanto na prevenção quanto na correção, considerando as graves consequências dessa condição.
A obesidade infantil resulta de diversos fatores. Como exploro no meu livro “O Ciclo Original”, as mudanças radicais que fizemos no planeta e no nosso estilo de vida nas últimas décadas ultrapassaram a nossa capacidade de adaptação, desregulando completamente o metabolismo. Isso afetou violentamente os mais vulneráveis: as nossas crianças. O consumo desenfreado de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares, farináceos e óleos vegetais de sementes, aliado ao sedentarismo, à exposição a uma infinidade de compostos químicos e ao sequestro das crianças pelas telas, foi simplesmente demais. Este é um ciclo vicioso difícil de romper, especialmente para os pequenos, cujos corpos ainda estão em desenvolvimento.
As consequências dessa obesidade são graves e profundamente preocupantes. Estamos falando de questões emocionais e físicas! Crianças com sobrepeso ou obesas hoje têm um risco muito maior de desenvolver doenças crônicas na vida adulta, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão e até certos tipos de câncer. Além disso, a obesidade está ligada a desequilíbrios hormonais, incluindo a deficiência de testosterona, o que pode impactar negativamente o crescimento e desenvolvimento das crianças.
A baixa produção de testosterona, especialmente nos meninos, é algo que me preocupa imensamente. Existe até uma síndrome para isso: a síndrome de MOSH (Síndrome de Hipogonadismo Masculino Relacionado à Obesidade). Este hormônio é vital tanto para meninos quanto para meninas, e níveis inadequados podem prejudicar o desenvolvimento, afetar a composição corporal e comprometer o crescimento, além de impactar a capacidade de liderança, raciocínio e até a esperança no futuro.
Diante desse cenário, acredito que a solução reside em uma abordagem holística e natural, um resgate do nosso ambiente original adaptado à contemporaneidade.
Primeiro, precisamos focar na alimentação. Devemos resgatar nossa dieta original, baseada em alimentos naturais, com baixo teor de carboidratos e rica em gorduras e proteínas saudáveis. Devemos evitar ao máximo farináceos, açúcares, grãos processados, bebidas adoçadas e óleos artificiais. Isso regula os níveis de insulina e promove a queima de gordura corporal.
Em segundo lugar, o movimento é essencial. As crianças precisam estar ativas, brincar ao ar livre, praticar esportes. Isso não só mantém o corpo em movimento, mas também contribui para o bem-estar geral.
O terceiro pilar é o controle de danos. Precisamos reduzir a exposição dos nossos filhos às substâncias químicas presentes em embalagens plásticas, produtos de higiene e maquiagens, que são disruptores endócrinos. Medidas simples, como substituir a tábua de cortar de plástico por uma de vidro ou titânio, podem fazer uma grande diferença no equilíbrio hormonal das crianças.
Por fim, o sono é fundamental. Uma boa higiene do sono e a redução do consumo de telas são vitais para o bem-estar emocional e social das crianças. Fortalecer os laços familiares e criar um ambiente propício ao descanso e à desconexão das distrações tecnológicas é crucial.
Eu acredito firmemente que, se agirmos agora e adotarmos essas práticas, podemos evitar que a obesidade infantil se torne uma epidemia ainda maior em 2035. “O Ciclo Original” não é apenas uma solução; é um compromisso que todos nós – pais, educadores e profissionais de saúde – devemos assumir para garantir que as nossas crianças cresçam saudáveis e livres dos riscos associados ao sobrepeso e à obesidade. Juntos, podemos construir um futuro mais saudável para todos.
Fernando Bastos é médico, palestrante e escritor. Autor do Best Seller “O Ciclo Original”
* @drfernandobastos