Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 2 de agosto de 2021
Pelo menos oito fardos que pesam até 200 kg foram encontrados na Praia do Flamengo, em Salvador, na Bahia, desde o último fim de semana. O material fazia parte da carga de um navio nazista afundado 4 de janeiro de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial.
Os fardos na verdade são “folhas” de látex dobradas diversas vezes. De acordo com o oceanógrafo Carlos Peres Teixeira, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), trata-se de matéria prima para borracha utilizada nos pneus e armas do exército alemão.
“Esse navio foi afundado por um Destroyer americano e está afundado a 1 mil quilômetros de Recife, em linha reta, a 5,6 mil metros de profundidade. Até o ano passado era o naufrágio mais profundo já alcançado por um robô. Para se ter uma ideia, o Titanic está a 2 mil metros de profundidade”, explicou Teixeira.
A relação entre os fardos e a marinha nazista foi estabelecida em 2018, quando os primeiros fardos começaram a aparecer na costa brasileira. Na época, eles foram vistos da Bahia ao Maranhão. E nos meses seguintes chegaram até a Flórida, nos Estados Unidos.
A descoberta ocorreu a partir de uma inscrição que continha nos fardos, dizendo: “Made in Indochina”. Era nessa ex-colônia francesa – desmembrada nos países Laos, Camboja e Vietnã – que as forças nazistas recorriam às matérias-primas como a borracha. Nesse navio naufragado, também há carga de cobalto e estanho.
“Não acreditamos que essas caixas que estão aparecendo agora sejam novas. Pelo aspecto delas, acredito que sejam as mesmas. Elas chegam às praias quando a maré está mais alta, com ondas fortes”, disse Teixeira.
Há entre 500 e 600 navios naufragados entre o Brasil e a Europa. De acordo com o pesquisador, essa quantidade de embarcações submersas é um motivo de preocupação.
“São navios que estão se corroendo e uma hora vão romper e liberar a carga. E nem todas serão inofensivas como fardos de borracha. Há navios-tanque naufragados e não sabemos se o óleo continua lá. Quando isso romper, certamente vai chegar à costa brasileira. É uma bomba-relógio”, alerta.
Os fardos foram retirados na manhã desta segunda-feira pela Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb). O material foi recolhido da faixa de areia com o auxílio de um caminhão munck, devido o peso.
“A Marinha já coletou uma amostra para avaliar junto ao Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia. O restante do material será pesado e a Limpurb ficará no aguardo de um posicionamento da Marinha a respeito de onde essas caixas serão guardadas”, informou o órgão municipal, em nota.