Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 23 de junho de 2015
A empreiteira Odebrecht pagava propina ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa a cada dois ou três meses, conforme ele mesmo disse no depoimento feito na delação premiada. Costa relatou também que os pagamentos permaneceram mesmo após ele deixar o cargo, como forma de acertar valores de contratos firmados anteriormente.
A Odebrecht, ao lado da Andrade Gutierrez, foi alvo da 14ª fase da Operação Lava-Jato. Esta fase da operação, chamada de “Erga Omnes”, investiga crimes como formação de cartel, fraude a licitações, corrupção, desvio de verbas públicas, lavagem de dinheiro.
Segundo o MPF (Ministério Público Federal), as empresas tinham esquema “sofisticado” de corrupção ligado à Petrobras. Foram presas 12 pessoas, entre elas os presidentes das empresas Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo.
“(…) os depósitos eram feitos a cada dois ou três meses, sendo que a Odebrecht era quem os realizava e controlava, sendo que Bernardo [suposto operador] verificava os saldos em conta e informava o declarante”, diz trecho da delação premiada de Costa, que foi anexada aos autos da investigação contra a Odebrecht.
A origem do dinheiro, de acordo com o ex-funcionário, eram contratos firmados entre a Odebrecht e a Petrobras. O ex-diretor afirmou que acreditava que o recurso saiu de obras da Refinaria Abreu e Lima e do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).
Suíça
Os depósitos ocorreram de 2008 ou 2009 até 2013, com a possibilidade de outras transferências também em 2014, disse Costa.
Ele afirmou também que esses depósitos não entravam no percentual que a construtora repassava aos partidos políticos via doleiro Alberto Youssef, como ocorria, de acordo com o MPF e com a Polícia Federal, com as outras empresas investigadas na formação de cartel para licitações da estatal.
Costa acrescenta que todos os valores mantidos por ele em contas suíças são depósitos feitos pela Odebrecht. Contudo, ele afirma não saber detalhes sobre as transferências. O ex-diretor de Abastecimento também declarou que não precisava do dinheiro, que apenas o estava ocultando para uso futuro quando viesse a precisar. Desta forma, segundo ele, não houve movimentação deste recurso da Suíça para o Brasil.
Ontem, Costa faz uma acareação com Youssef para esclarecer pontos divergentes das delações premiadas. Bernardo Freiburghaus é apontado como o suposto operador do pagamento de propina da Odebrecht para Costa. Apesar de residir de forma permanente no Brasil, ele é cidadão suíço.
Costa afirmou que Freiburghaus intermediava os pagamentos. Conforme as investigações, ele agia de maneira semelhante a Youssef na trama do esquema de corrupção. Freiburghaus mudou-se para Suíça no transcorrer da Lava-Jato. Conforme o despacho para mandados de prisão e busca e apreensão, Freiburghaus apresentou declaração de saída definitiva do Brasil junto à Receita Federal em 29 de outubro do ano passado.
A data é posterior à operação e à prisão de Costa. “A fuga do intermediador de propinas e de lavagem de dinheiro que prestava serviços para a Odebrecht prejudicou as investigações em relação a referida empreiteira”, diz trecho do despacho assinado pelo juiz Sérgio Moro.
Conforme a delação, Freiburghaus abria offshores com o objetivo de dificultar o rastreamento do dinheiro e a veiculação do montante. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras disse aos investigadores que mantinha reuniões bimestrais com Freiburghaus, em uma de propriedade, no Rio de Janeiro, onde via extratos e saldos das contas no exterior.
Costa relatou que pagava um valor fixo por mês para que Freiburghaus administrasse as contas no exterior, porém, disse não se lembrar do preço. Todas as possíveis pistas sobre as irregularidades eram destruídas. “O declarante não levava consigo nenhum documento, sendo que os extratos eram posteriormente triturados para não deixar vestígios, mas houve determinado dia em que o declarante realizou anotações em sua agenda”, diz outro trecho da delação.
Odebrecht nega
A construtora Odebrecht publicou um comunicado em jornais de grande circulação no País ontem em que nega que a empresa tenha participado de cartel, como denuncia a Polícia Federal, e diz que a prisão de executivos foi ilegal. A Odebrecht afirma que “a Polícia Federal não apresentou, como alegado na decisão judicial, qualquer fato novo que justificasse as medidas de força cumpridas, totalmente desnecessárias e, por isso mesmo, ilegais”.
A construtora diz ainda que a justificativa da polícia de efetuar as prisões para evitar que os executivos reiterassem nos supostos crimes “é uma afronta aos princípios mais básicos do Estado de Direito”. (AG)