A um passo de selar o acordo que negocia há meses com os procuradores da Operação Lava-Jato, a Odebrecht se prepara para entrar em uma nova etapa do processo de reestruturação dos seus negócios.
A expectativa é que boa parte desse processo seja concluída no próximo ano, mas executivos que participam dele afirmam que a reorganização poderá demorar até dois anos e reconhecem que seus resultados ainda são incertos.
Além de encontrar compradores para os negócios que pôs à venda, o grupo precisa convencer seus credores a rolar empréstimos e garantir que a crise de reputação que atingiu a empreiteira e outras partes do conglomerado não o impeça de voltar a crescer.
Os executivos dizem que o grupo sairá da crise inevitavelmente muito menor do que entrou. Cerca de um quarto da capacidade de geração de caixa do grupo está ameaçado, somados os negócios que estão à venda e as empresas mais problemáticas.
Banqueiros e executivos atribuem parte do problema à demora da cúpula do grupo em reconhecer que enfrentava problemas. O grupo virou alvo da Lava-Jato há dois anos, quando a Polícia Federal efetuou as primeiras prisões de empreiteiros e realizou buscas na sede da Odebrecht.
Em março deste ano, admitiu ter participado do esquema de corrupção descoberto pela Lava-Jato e passou a negociar acordo de delação para colaborar com as investigações. Com a assinatura do acordo, o ex-presidente do grupo Marcelo Odebrecht, preso há um ano, e 76 executivos se tornarão delatores.
BANCOS RETRAÍDOS
A dívida do conglomerado explodiu enquanto os investigadores cercavam o grupo. Em 2013, devia R$ 52 bilhões na praça, descontados os valores que tinha e o que esperava receber. Em 2014, quando a Lava-Jato começou, a conta foi a R$ 62 bilhões. Em 2015, quando Marcelo foi preso, saltou para R$ 84 bilhões.
Com negócios em petroquímica, energia e saneamento, entre outros, as receitas continuaram crescendo. Mas os bancos se retraíram ao ver seu principal executivo preso, suas empresas endividadas e o grupo ameaçado pela cobrança de multas elevadas.
Para salvar a companhia que administra as usinas de etanol do grupo, foi preciso entregar aos banqueiros o que a Odebrecht tinha de melhor: suas ações na petroquímica Braskem, responsável por cerca de 40% das receitas.
No primeiro semestre, a Odebrecht pediu aos bancos um novo empréstimo, de R$ 2 bilhões. Desta vez, para a holding. O pedido continua na mesa em valor menor, segundo banqueiros que participam das conversas, mas há resistência entre as instituições.
A Odebrecht espera que o acordo de delação premiada abra caminho para que negociações avancem. O grupo pôs vários negócios à venda, com dois objetivos: levantar dinheiro e se livrar da dívida do que for passado à frente.
A meta é vender negócios avaliados em R$ 12 bilhões. Na lista, há gasodutos, hidrelétricas e concessões. O grupo quer se desfazer de R$ 7 bilhões até o fim deste ano e já conseguiu fechar acordos para a venda de R$ 5 bilhões. (Folhapress)