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Por Redação O Sul | 15 de abril de 2017
Quanto mais influente era o cargo pleiteado por um candidato, maior era a aposta da Odebrecht em sua eleição. Na disputa de 2014, um aspirante a deputado estadual podia receber em média, R$ 30 mil da empreiteira. A deputado federal, R$ 50 mil. Candidatos ao governador ganhavam entre R$ 100 mil e R$ 200 mil. Senadores, de R$ 80 a R$ 100 mil.
“Para [candidatos a] presidente, logicamente não tinha esse padrão”, contou Alexandrino Alencar, ex-diretor de relações institucionais do grupo, em sua delação a investigadores da Lava-Jato. As quantias são uma estimativa do executivo para aquele ano – de memória, ele disse que não saberia cravar valores.
Doações que desviassem muito da média da tabela eram indício do interesse excepcional da Odebrecht no político, afirmou o delator: “Ou era um deputado estratégico ou tinha alguma contrapartida já bem explícita”.
O fato de um político receber recursos via doações legais não o impedia de, também, estar na lista de pagamentos não declarados da construtora. “Como, às vezes, era para fugir desse padrão, já ia direto para o caixa dois, não fazia via doação legal porque aí já extrapolava”, disse o ex-diretor.
Segundo Alencar, até 2010, a empreiteira “minimizava” os pagamentos legais para campanhas, “para não expor demais o nome do grupo”. No mesmo ano, deixaram de doar diretamente aos políticos e passaram a centralizar os repasses para seus partidos. “Eles que direcionassem os valores aos candidatos que melhor conviessem”, afirmou. “Avisávamos ao candidato que iríamos doar ao partido, e não a ele. E ele que fosse buscar.”
O executivo contou que, nas eleições de 2014, atuou especificamente nas campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB). Em depoimento, citou doações contabilizadas para a campanha ao governo de São Paulo de Alexandre Padilha (PT) (R$ 1 milhão), sem “razão específica”.
E, em 2012, de R$ 450 mil oficiais a Carlos Grana (PT), eleito prefeito de Santo André. O motivo, disse, era a instalação do polo petroquímico na cidade do ABC paulista, além do interesse em outras obras na cidade. E o fato de que era “muito próximo” ao ex-presidente Lula.
Rio Grande do Sul
Alencar relatou que, de 2006 a 2010, sua atuação se concentrou na vida política do Rio Grande do Sul, onde há uma filial do braço petroquímico da Odebrecht, a Braskem – de acordo com ele, a segunda maior empresa em termos de recolhimento de ICMS no Estado. O grupo também tinha interesse em obras de saneamento básico e de estradas.
Ele afirmou que mantinha contato pessoalmente com lideranças gaúchas. Cita os ex-governadores Tarso Genro (PT) e Germano Rigotto (PMDB ), além de Carlos Crusius, marido da ex-governadora Yeda Crusius (PSDB). Na maioria das vezes, porém, era procurado por prepostos. Crusius é alvo de um dos inquéritos que corre no Supremo Tribunal Federal e pode ser acusada por corrupção passiva e corrupção ativa.
Segundo delatores, ela recebeu R$ 1,75 milhão entre doações oficiais e repasses nas campanhas de 2006 e 2010. O depoimento de Alencar à Lava-Jato ocorreu no processo em que a peessedebista é investigada. (Folhapress)