A força-tarefa da Operação Lava-Jato afirmou nesta terça-feira (22) que a Odebrecht tinha uma “estrutura profissional” para pagamento de propina no Brasil. Conforme o MPF (Ministério Público Federal), a construtora possuía funcionários dedicados a uma espécie de contabilidade paralela que visava pagamentos ilícitos.
A estimativa é de que pelo menos R$ 66 milhões em propina foram distribuídos. Esse valor, segundo a PF (Polícia Federal), estava disponível em apenas uma das contas identificadas como pertencentes à contabilidade paralela. O MPF afirma que os pagamentos feitos pela Odebrecht estão atrelados a diversas obras e serviços federais e também a governos estaduais e municipais.
“Se chegou a observar R$ 9 milhões de um dia para outro em dinheiro em espécie”, disse a procuradora do MPF Laura Gonçalves Tesser. Os pagamentos ilegais ocorreram também com a Lava-Jato já em curso. A Odebrecht, uma das maiores empreiteiras do País, foi alvo da 26ª fase da operação nesta terça-feira. Por meio de nota, a empresa afirmou que “tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários”.
As primeiras ações investigativas contra a empresa ocorreram em junho de 2015, em meio à 14ª fase da Lava-Jato. As vantagens indevidas se estenderam até, pelo menos, novembro de 2015, conforme comprovado por troca de e-mails entre os investigados.
O presidente afastado da holding Odebrecht S.A., Marcelo Odebrecht, já foi condenado a 19 anos e quatro meses de prisão. De acordo com a força-tarefa, o setor da Odebrecht responsável pelas vantagens indevidas tinha um sistema informatizado próprio utilizado para armazenar os dados referentes ao processamento de pagamentos ilícitos e para permitir a comunicação reservada entre os executivos e funcionários envolvidos nas tarefas ilegais.
Outro sistema, no qual os envolvidos usavam codinomes, permitia a comunicação secreta entre executivos, funcionários da Odebrecht e os doleiros responsáveis por movimentar os recursos irregulares.
O MPF apurou que pelo menos 14 executivos de outros setores da Odebrecht, que demandavam os “pagamentos paralelos”, encaminhavam aos funcionários as solicitações de pagamentos ilícitos, de forma que a contabilidade paralela e a entrega dos valores espúrios ficassem centralizadas nessa estrutura específica.
Conforme a Lava-Jato, funcionários foram transferidos para o exterior não apenas para fugir das investigações, mas também para viabilizar a continuação desse sistema ilícito. Segundo a força-tarefa, executivos requisitavam pagamentos a codinomes e encaminhavam aos superiores, que os autorizavam. “Havia um procedimento a ser seguido para esses pagamentos paralelos”, disse a delegada Renata Rodrigues. (AG)