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Ofensas e ataques à democracia passaram a ser o principal motivo da atuação da Polícia Federal contra o Legislativo nacional

Abordagens contra instituições e autoridades passaram a pautar agentes que batem à porta de alvos no começo das manhãs. (Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

Antes dominadas por casos de corrupção, ações da Justiça e operações da Polícia Federal (PF) contra políticos mudaram o foco nos últimos anos. Abordagens contra instituições e autoridades passaram a pautar agentes que batem à porta de alvos no começo das manhãs após autorizações judiciais, especialmente desde o início do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Dois casos emblemáticos de corrupção marcaram a política. O primeiro foi o Mensalão, um esquema de compra de votos denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (esquema pelo qual foi condenado) em 2005 e que ameaçou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, à época em seu primeiro mandato de presidente.

O segundo veio à tona pela operação Lava Jato, que revelou o esquema de corrupção na Petrobras, no escândalo conhecido como Petrolão. Esta ação teve 80 fases e a PF cumpriu mais de 1.000 mandados de busca e apreensão, de prisão temporária, de prisão preventiva e de condução coercitiva. A lavagem de dinheiro na petrolífera movimentou bilhões de reais em propina, conforme as investigações.

Foi a partir de 2019, no primeiro ano da então gestão Bolsonaro, que agentes da PF passaram a ir às ruas com outra atenção, apesar de ainda haver registros de investigações sobre corrupção, como a que mirou Bolsonaro por não deixar nos cofres da União joias de alto valor dadas como presente pelo governo saudita. Esse caso se tornou público no ano passado.

Números da PF apontam a mudança no cenário. Entre 2019 e 2022, período do governo Bolsonaro, foram cumpridas 756 operações de combate à corrupção. No último ano, foram 142. O número de prisões por corrupção no mesmo período caiu 90%. Os dados são da organização não governamental Transparência Internacional – Brasil.

Desde então, parlamentares estão na mira dos agentes por porte ilegal de armas, como é o caso da deputada Carla Zambelli (PL-SP), e por injúria e ameaça, caso de Nikolas Ferreira (PL-MG). Os atos de 8 de janeiro de 2023, que terminaram na destruição das sedes dos Três Poderes, também tornaram deputados alvos. Um deles foi Carlos Jordy (PL-RJ), que teve buscas realizadas pela PF em seus endereços em janeiro deste ano. O senador Marcos do Val (Podemos-ES) foi alvo no dia do seu aniversário, em 15 de junho de 2023, por supostamente obstruir investigações sobre os ataques.

Uma megaoperação contra uma suposta tentativa de plano de golpe, deflagrada no início de fevereiro, mirou Bolsonaro e o amplo entorno do ex-presidente, afastando, novamente, o tema corrupção. Outro exemplo é a condenação do ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) em 2022, quando ele ainda cumpria mandato. Na época, o Supremo Tribunal Federal (STF) o condenou a mais de oito anos de prisão por ameaça e coação aos integrantes da Corte.

A mudança de foco motivou, também, uma nova postura de parlamentares que antigamente exaltavam e comemoravam as ações da PF. Agora, um grupo denso no Congresso adotou o discurso de perseguição de integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do governo Lula para se defender de ações da PF.

Zambelli, quando foi intimada por porte ilegal de arma e de constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo, reagiu com esse discurso após ser chamada de “pistoleira” pela presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR). “Prefiro muito mais estar sendo intimada por um processo de arma do que por um processo de corrupção”, disse em um vídeo publicado em suas redes sociais.

 

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