Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de dezembro de 2021
Desde o último 26 de novembro, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a ômicron como uma variante de preocupação, o mundo entrou em alerta. A nova cepa do coronavírus começava então a exibir uma capacidade de disseminação nunca vista em dois anos de pandemia.
O tempo comprovou a forte suspeita: em pouco mais de um mês de circulação, a mutação detectada originalmente na África do Sul, já está presente em 110 países e continua a evoluir. “A ômicron está se propagando em um ritmo que não vimos com nenhuma variante anterior”, chegou a afirmar o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, quando ela acometia ainda 77 países. A velocidade de espalhamento chega a ser três vezes maior em relação à delta, para se ter ideia.
Uma questão, no entanto, ainda estava em aberto: a explicação para o baixo número de mortes provocadas quando comparada à delta. Há a linha científica que atribui ao alto índice de imunizados naturalmente e vacinados — rapidamente grandes laboratórios passaram a trazer resultados de estudos com seus imunizantes.
Há também os que dizem que as mutações em si poderiam ter tornado o coronavírus mais fraco, se dividindo menos nas células dos pulmões, por exemplo. Mas agora um estudo conduzido pelos institutos de Imunologia e de Medicina da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, mostrou que o que a torna mais amena é o caminho inédito que a cepa escolhe para entrar nas células humanas.
Resumidamente, há duas portas celulares para a entrada do coronavírus. Uma delas, a principal, usa uma proteína chamada TMPRSS2 para atrair o vírus. A segunda usa a proteína catepsina para fazer o mesmo. A genética do coronavírus fez com que a primeira até então tivesse sido escolhida por todas as variantes para entrar.
Ela é mais escancarada, digamos assim, o que faz o vírus entrar com mais potência e tornar as infecções mais graves. A segunda, que atraiu apenas a ômicron até agora, possui substâncias naturais que amenizam a agressividade do vírus logo na sua chegada. Com isso, a doença seria menos grave.
Cloroquina
O achado dos pesquisadores ingleses, que ainda tem de ser avaliado por pares, além de poder explicar porque a ômicron em geral causa doença menos agressiva, também remete a um conhecimento anterior.
Estudo divulgado em janeiro de 2021 pelo Departamento de Imunologia e Microbiologia do Instituto The Scripps Research, na Flórida, Estados Unidos, mostrou que a porta alternativa de entrada é também o caminho de chegada da cloroquina nas células humanas.
“Isso explica o fato de o remédio polêmico não ter sido eficaz no tratamento da covid-19, já que as outras cepas chegavam por outro lugar”, explica Salmo Raskin, médico geneticista e diretor do Laboratório Genetika, de Curitiba.
Mas o trabalho também indica agora que a cloroquina poderia ser testada para investigar a ação contra a infecção provocada pela ômicron, visto que atua no mesmo mecanismo celular da nova cepa. A cloroquina age tornando o ambiente celular menos ácido – o que amenizaria a penetração do vírus.
Não há qualquer recomendação médica ou científica para o uso da cloroquina contra a doença. A lógica é ainda teórica. O estudo indica apenas que novas pesquisas podem ser feitas com o uso da cloroquina no combate à infecção pela ômicron.