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Onda contra o ministro da Fazenda expõe esquerda frágil nas redes sociais mais uma vez

Apelidado de "Taxad", Fernando Haddad centralizou os ataques às decisões tributárias do governo. (Foto: Reprodução)

A onda de memes alusivos ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teve predomínio de interações negativas, capitaneadas pela oposição e por críticos ao governo Lula. Já a tentativa de contra-ataque digital esbarrou em uma esquerda fragmentada, ela própria dividida entre chancelar ou não a condução da política econômica pela pasta. As conclusões fazem parte de um relatório da Escola de Comunicação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que analisou 48,7 mil postagens que aderiram ao movimento nos últimos dias.

Apelidado de “Taxad”, o ex-prefeito de São Paulo centralizou os ataques às decisões tributárias do governo. Assim, apontam os pesquisadores, as críticas pouco atingiram diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A difusão negativa somou 79,1% das interações nas redes, com posts que combinam “crítica política e manifestações bem-humoradas”, como consta no levantamento. O grupo predominante nesse campo é o de perfis associados à direita e ao bolsonarismo. A mobilização foi comparada ao que se viu nas redes no impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.

“Novamente temos um uso bem-sucedido de uma estratégia que não é nova, não é recente, e se repete há bastante tempo na política brasileira. É a estratégia da ocupação dos espaços”, aponta Lucas Calil, professor e coordenador de pesquisa aplicada da FGV. “É a simplificação da agenda política a um único ponto”.

Na avaliação de Calil, o episódio mostrou mais uma vez a dificuldade da esquerda e de setores progressistas de reagirem à mobilização do outro lado: “As bases conservadoras têm muita eficácia e fazem isso muito bem como estratégia de discurso, enquanto vemos uma incapacidade das bases progressistas e dos núcleos de esquerda de responder nessa esfera política digital.”

Segundo o relatório, a esquerda se dividiu em dois polos. Enquanto um se concentrou na defesa irrestrita de Haddad e se solidarizou com os ataques, o outro relativizou o impacto dos memes e evitou chancelar as decisões do ministro. A mobilização de perfis em defesa do petista totalizou 13,8% das interações.

“Apesar de uma tentativa tímida de fazer memes positivos, o que não costuma funcionar, nem toda a esquerda é partidária da política econômica proposta pela Fazenda. Dentro dessas bases que poderiam fazer uma frente de defesa, não há uma unicidade em relação ao Haddad”, diz Calil.

A análise dos memes mostrou também pouco espaço para críticas a outras figuras políticas, como menções e atribuições de responsabilidade ao presidente Lula (12%). De acordo com o relatório, “não há consenso sobre a posição do presidente: ora é enquadrado como “mentor” de Haddad, ora assume um papel mais “coadjuvante”.

Fragilização

Por trás disso, pode estar a fragilização do ministro da Fazenda após embates com o governo em temas como a meta fiscal, segundo hipótese levantada por Lucas Calil. Outro elemento que pode ter contribuído para poupar Lula das críticas é a sua popularidade com a parcela da população afetada pelas mudanças na tributação.

“Não é o Lula, mas quase puramente o Haddad”,  avalia o professor, que acrescenta serem mais comuns as críticas se voltarem para o principal ator político, o presidente, o que não aconteceu desta vez. “Não foi uma mudança de estratégia em si, mas uma adaptação ao contexto da narrativa.”

São poucas as políticas do governo que são citadas diretamente nos memes compartilhados nas redes. Apenas 8% das postagens chegam a citar medidas como a taxação de compras internacionais, enquanto outros 26% voltam-se para os impactos no cotidiano dos brasileiros. “São imagens que indicam que Haddad estaria taxando apenas os mais pobres ou ainda que os cidadãos estariam ‘largados'”, descreve o relatório.

Os memes também se apoiam em referências diversas à cultura pop, como filmes e músicas, além de menções a personalidades históricas e dos esportes. Calil explica que a estratégia envolve simplificar ao máximo a mensagem de crítica ao ministro: “Você extrapola ao máximo para precisar de critério interpretativo. A alusão faz muito sentido porque ela é mais reconhecida pela população e é pop por si só, exige referências menos especificas. Não faz diferença se é a Margaret Thatcher, o Obama ou um filme. Importa inserir mais uma referência sobre o imposto.” As informações são do O Globo.

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