Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 19 de fevereiro de 2018
De Harry S. Truman a Donald Trump, os presidentes dos Estados Unidos têm acesso garantido a bunkers, espécies de abrigos fortificados para que possam se proteger em segurança no caso de uma guerra nuclear. Mas o que acontece se uma ameaça efetivamente surgir?
Quase imediatamente, o presidente teria que ser levado para um lugar seguro.
E ele tem um vasto conjunto de lugares à disposição. Um deles está localizado sob a Casa Branca e foi construído nos anos 50. Outro está escondido nas montanhas Blue Ridge, no Estado da Virgínia.
No caso de Trump, ele também tem bunkers rudimentares em sua mansão em Mar-a-Lago, na Flórida, onde mantém um resort, e em seu campo de golfe em West Palm Beach, no mesmo Estado – e que estaria sob o segundo buraco do campo, de acordo com a revista americana Esquire.
Preocupação nacional?
A história dos abrigos antibomba de Trump reflete a maneira como os americanos têm lidado com a perspectiva de guerra nuclear nas últimas décadas.
Para algumas pessoas, a ideia de uma guerra nuclear é inimaginável. Outras, por sua vez, fazem planos.
Os preparativos para o inverno nuclear ou para outras consequências de uma possível guerra são muitas vezes muito elaborados e surpreendentes.
O inverno nuclear é um fenômeno ambiental previsto como consequência dessa eventual guerra e, na prática, ocorreria porque uma nuvem de poeira bloquearia a luz solar e provocaria uma grande queda de temperatura no planeta.
Nenhum bunker, porém, por mais brilhante que seja, sobreviveria a um impacto direto.
“Não há defesa contra a tremenda explosão e o calor (que uma guerra nuclear provocaria)”, diz Kenneth Rose, autor do livro One Nation Underground: The Fallout Shelter in American Culture (“Nação subterrânea: O abrigo radioativo na cultura americana”, em tradução literal).
O nome do livro faz referência ao tipo de abrigo construído normalmente debaixo do solo e usado como proteção contra a poeira radioativa após uma possível explosão nuclear.
Se o presidente sobrevivesse ao ataque inicial, porém, um bunker viria a ser útil. Ele precisaria de um lugar de onde pudesse comandar a nação em segurança – mesmo que o resto do mundo estivesse em chamas.
Autoridades dos EUA fizeram acordos de acesso a esses locais seguros para o presidente e um grupo de indivíduos considerados “no topo da cadeia alimentar”, de acordo com Robert Darling, fuzileiro naval que passou parte do 11 de Setembro no bunker da Casa Branca.
De acordo com ele, apenas um grupo seleto é admitido no bunker presidencial, o que acaba tornando a hierarquia social uma questão de vida ou morte.
“Parte do negócio”
Historiadores dizem que a construção de bunkers é uma parte necessária da estrutura governamental.
A construção de abrigos e bunkers, seja para presidentes ou pessoas comuns, serve também para outro propósito: eles tornam mais fácil para os americanos falar sobre ogivas atômicas ou nucleares e ajudam a transformar a guerra nuclear global – impensável – em algo a se pensar.
O presidente Harry Truman (1945-53) supervisionou o estabelecimento de uma administração federal de defesa civil na década de 1950. A mensagem geral do governo, explica Christian Appy, professor de História da Universidade de Massachusetts, era de que “a guerra nuclear não era necessariamente um apocalipse para todos”.
A agência de defesa civil ajudou a criar a ideia de “cidadania nuclear”, diz Appy. O governo dos EUA queria que os civis se ajustassem a uma nova realidade, diz ele, preparando o caminho para a sua “anuência à corrida armamentista nuclear”.
Uma avaliação de bombardeio estratégico dos Estados Unidos descobriu que cerca de 30% dos que morreram imediatamente no ataque atômico dos EUA contra Nagasaki poderiam ter sido salvos por abrigos, diz Sowell, explicando a lógica por trás do programa de defesa civil de Truman.
Autoridades da agência tentaram estabelecer um sistema de abrigos nacionais. Alguns chegaram a ser construídos para funcionários do governo e membros do público. Autoridades supervisionaram a construção de uma grande instalação em Los Altos, na Califórnia, na década de 1960, por exemplo.
Mas foram sobretudo indivíduos particulares que construíram seus próprios bunkers.
Quem é autorizado a entrar em um bunker presidencial?
Peanut Island: O presidente e poucos assessores e secretários (havia espaço para 30).
Casa Branca: Segundo Darling, o então vice-presidente Dick Cheney trabalhou por trás da “porta de aço” do bunker no 11 de setembro de 2001, ao lado de sua mulher, de Condoleezza Rice, a assessora de segurança nacional, do secretário de Defesa Donald Rumsfeld e outros. (O então presidente George W Bush passou o dia na Air Force One, a aeronave oficial da Presidência).
Mount Weather: Há espaço para o presidente, seus assessores e centenas de outros – até mesmo jornalistas.