Sexta-feira, 07 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de dezembro de 2022
Mudança do perfil demográfico exige políticas públicas voltadas às necessidades que pessoas mais velhas podem enfrentar
Foto: ReproduçãoNo mesmo relatório em que apresentou a marca de 8 bilhões de pessoas no planeta, a ONU (Organização das Nações Unidas) também chamou atenção para um ponto específico: o envelhecimento da população.
O World Population Prospects 2022, levantamento anual feito pela ONU, estima que, apesar de a população mundial ter levado 12 anos para crescer de 7 bilhões para 8 bilhões de pessoas, em 2030, o globo atingirá a marca de 8,5 bilhões de habitantes. Em 2080, esse número pode chegar a 10,4 bilhões.
Durante esse período, o número de pessoas com mais de 65 anos deve ter um aumento acentuado. “Deverá aumentar de 10% em 2022 para 16% em 2050. Espera-se que o número de pessoas com 65 anos ou mais em todo o mundo seja mais do que o dobro do número de crianças com menos de cinco anos, e aproximadamente o mesmo que o número de crianças com menos de 12 anos”, relata o site das Nações Unidas no Brasil.
Isso significa que a população idosa será composta por cerca de 1,5 bilhão de indivíduos no mundo. Além desse aumento, o relatório aponta que a taxa de fecundidade caiu acentuadamente nas últimas décadas. Atualmente, dois terços da população global vive em um local com uma média de fecundidade abaixo de 2,1 nascidos por mulher.
Esse é um dos motivos apontados pela professora Yeda Aparecida de Oliveira Duarte, da Escola de Enfermagem e da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) e líder do grupo de pesquisa “Saúde Pública e Envelhecimento”, para o aumento da população idosa.
“O envelhecimento populacional, ou transição demográfica, ocorre como resultado da diminuição progressiva nas taxas de fecundidade e mortalidade – em especial a infantil – e aumento da expectativa de vida”, diz a professora.
Na prática, segundo a docente, isso significa que “nascem menos crianças, quem nasce não morre (mortalidade infantil diminuída) e vive mais (comparado às décadas anteriores)”. “Nesse grupo, a faixa etária que mais rapidamente cresce é a das pessoas mais longevas, resultado das melhorias nas condições e assistência à saúde, bem como dos avanços técnico-científicos”, acrescenta Yeda.
O crescimento da qualidade de vida, de forma geral, trouxe diversos avanços que possibilitaram o salto da expectativa de vida de 45,5 anos, estimado em 1940, para 77 anos em 2022, segundo dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“As pessoas se cuidam mais, se alimentam mais, têm infraestrutura para poder viver. É claro, nós temos pessoas em condições precárias de sobrevivência, mas nós temos bem menos do que há uma centena de anos, por exemplo”, observa a professora Rosa Chubaci do curso de gerontologia da USP.
Porém, os países devem manter vigilância nessa transição demográfica, pois ela também implica em uma transição epidemiológica. Sendo assim, a morbimortalidade (condições de adoecimento e morte) muda.
“As doenças e agravos crônicos passam a ser cada vez mais prevalentes. Com isso, aumentam as demandas de saúde e sociais, exigindo um reordenamento das políticas públicas”, explica Rosa.
Essa readaptação contempla cuidados de saúde universais e de longo prazo, bem como uma melhoria na sustentabilidade de programas de previdência social.
O Brasil “é um dos países com rápido envelhecimento populacional, e nossa pirâmide populacional deve ser invertida em curto espaço de tempo”, alerta Yeda. Portanto, na visão dela, o país deve estar atento às mudanças e cuidar especialmente das pessoas com condições crônicas com rede de suporte social limitada ou inexistente.