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Por Redação O Sul | 11 de setembro de 2022
As primeiras fotos oficiais de Charles III foram divulgadas na sexta-feira, pouco mais de 24 horas após o anúncio da morte de sua mãe, quase ao mesmo tempo em que o novo rei falava em continuidade e na conservação do papel institucional da monarquia em seu primeiro pronunciamento à nação. Isso no mesmo dia em que os britânicos acordaram cercados por painéis luminosos com imensas fotos de perfil da rainha Elizabeth II, que morrera na véspera aos 96 anos, em fundo negro. Já os sites da família real começaram a ser atualizados no próprio dia do falecimento. A “firma”, como ficou conhecida a máquina por trás do Palácio de Buckingham, não perde tempo. Afinal, não existe vácuo de poder, muito menos em uma monarquia.
Era preciso que as imagens da monarca marteladas no imaginário coletivo nos 70 anos de seu reinado dessem lugar às do novo chefe da Casa de Windsor. Se as pessoas não estão acostumadas à ideia de se referir a Elizabeth II no passado, como admitiu o ex-primeiro-ministro Boris Johnson em discurso no Parlamento, elas tampouco tiveram tempo de se habituar a chamar o até então príncipe Charles de rei.
Esse é um dos seus maiores desafios daqui por diante. Ele precisa ser aceito e querido por seus súditos. Até pouco tempo, muita gente nem sequer conseguia vê-lo como futuro chefe de Estado. Pesquisa do YouGov de maio último indicava que quase 40% da população preferiam ver o príncipe William, agora o novo príncipe de Gales, no trono.
Para especialistas, no entanto, Charles conquistará a admiração dos britânicos com o tempo, e a “firma” trabalha que para que isso ocorra rapidamente. Não por acaso, o plano com todos os ritos da sucessão já estava pronto há anos. É ali que se constrói a narrativa do novo protagonista da monarquia constitucional.
“É difícil imaginar que o Reino Unido terá novamente uma figura tão admirada. No futuro, a instituição da monarquia estará sujeita a cada vez mais críticas, e superá-las será o maior desafio para sua sobrevivência”, disse ao jornal O Globo Pauline MacLaran, professora na Royal Holloway, da Universidade de Londres, e coautora do livro “Royal fever: the British monarchy in consumer culture” (Febre real: a monarquia britânica na cultura do consumo).
Para Phill Lewis, advogado na City, o coração financeiro da capital, trata-se de uma questão de “marca”. O que o palácio está fazendo agora, disse ele a um grupo de amigos, é trocar uma “marca registrada”.
“E isso não é fácil, principalmente quando a antiga marca era tão conhecida e reconhecida”, afirmou na saída do metrô de Tottenham Court Road, diante de imenso painel com o rosto da rainha.
Tudo indica, porém, que a população está disposta a dar a Charles III seu voto de confiança. Para o economista Tom Hewitt, o novo monarca vai se sair bem, porque está mais velho e, por isso, maduro.
Hewitt suspendeu todos os seus compromissos de trabalho em Worcesterchire, na sexta-feira, e dirigiu duas horas e meia até o Palácio de Buckingham para participar do que chamou de atmosfera de união que reunira tantas pessoas ali no centro da capital.
“Ele está pronto para o emprego. Se você me perguntasse há 20 anos, eu jamais te diria”, disse Hewitt. “Estou otimista. E acho que ele precisa aproveitar o momento em que todos estão solidários à família que acaba de perder a matriarca. Ele já disse que seguirá os passos da mãe, vai manter o compromisso de não se meter nos assuntos políticos. E acho que as pessoas já superaram a história da Camilla”, completou, referindo-se à nova rainha consorte, que foi responsabilizada pelo divórcio de Charles da então venerada princesa Diana, nos anos 1990.
Jan King esteve na coroação de Elizabeth II e não resistiu ao impulso de deixar uma cartinha e uma rosa amarela, a cor preferida da monarca, em sua homenagem em frente ao palácio. “O paraíso celebra uma vida bem vivida e cheia de admiração”, diz o início da nota, que termina com o lembrete: “Estive em sua coroação e agora no seu passamento.” Ela assina. King ama a monarca, mas se diz preparada para receber Charles III.
“Há alguns anos, jamais aceitaria. Mas ele se tornou um homem bom. Teve um casamento infeliz. Agora, Camilla o faz feliz, é uma boa influência sobre ele. É um homem maduro”, afirmou ela. As informações são do jornal O Globo.