A operação da Polícia Federal (PF) contra suposto uso ilegal de sistemas de espionagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), deflagrada na última quinta-feira (25) e continuada nessa segunda (29), pode provar o poder do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) no governo no pai, Jair Bolsonaro, e complicar a situação do ex-presidente.
Durante o governo passado, Carlos tinha trânsito liberado no Palácio do Planalto, em Brasília – mesmo sendo vereador da cidade do Rio.
Segundo apurou a CPI da Covid, Carlos atuava também como chefe do chamado “gabinete do ódio”, que alimentava aliados do então presidente com notícias falsas sobre desafetos do pai e sobre a pandemia.
De acordo com aliados de Bolsonaro, Carlos era também um ponto de atrito dentro do governo por conta de seu poder – principalmente, no campo das redes sociais e na busca de informações privilegiadas sobre adversários e desafetos.
O ex-presidente Jair Bolsonaro sempre buscou um sistema de inteligência que pudesse utilizar para questões pessoais. Em uma reunião ministerial cuja gravação foi tornada pública pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2020, Bolsonaro diz textualmente que precisava de relatórios desse tipo da Abin e da PF.
Os dois órgãos, no entanto, são instituições de Estado, ou não, não servem a questões pessoais.
Tanto Jair quanto Carlos Bolsonaro sempre negaram qualquer tipo de ação contra inimigos ao longo do governo.
O senador Flávio Bolsonaro disse que a PF está fazendo “uma pescaria ilegal” com a operação deflagrada nessa segunda que mira o seu irmão, o vereador Carlos Bolsonaro. Ele é investigado por suspeita de ter ligação cm a Abin paralela, mantida no governo do ex-presidente para monitorar autoridades e desafetos.
“Eu estava fazendo uma pescaria legal. O que a PF está fazendo é uma pescaria ilegal, que não é permitida pela nossa Constituição e nem pela nossa legislação”, disse Flávio.
Em ocasiões anteriores, Carlos Bolsonaro disse que nunca teve qualquer atuação no chamado “gabinete do ódio”, apesar de a estrutura ser operada por seus ex-assessores lotados no Palácio do Planalto.
Com a nova operação, interlocutores de Bolsonaro temem que a PF consiga documentos comprovando esses pedidos à Abin de informações pessoais, e ilegais, sobre desafetos do ex-presidente.
Esse material, se existir, reforçaria outros inquéritos que já tramitam contra Bolsonaro no STF e que devem ir a julgamento em breve. E, quem sabe, podem condenar Bolsonaro na esfera criminal.
Até aqui, Bolsonaro já foi condenado pela Justiça desde que deixou o cargo, mas apenas em processos eleitorais. Por conta dessas duas ações, o ex-presidente está inelegível até 2030.