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Opiniões

As urnas, em Porto Alegre, vieram com 30% eleitores a menos. (Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil)

“En 1931 Perico Chicote fundo en este local su histórico  bar para mezclar bebidas, vidas y opiniones … para que opiniones, vidas y bebidas convivan”.

Caminhando a esmo pela Gran Via, em Madri, passei na frente deste marcante pub. Numa parada rápida olhei, não vi ninguém falando baixo, ninguém triste, muito menos tomando leite. Era o contraste da rua e sua circulação própria com o movimento daquele bar. Ideias, calor e paixões onde todos os temas estavam presentes. A política? Claro, ela é o cerne das relações humanas. Entendi. Opiniões.

Não importa o tema, elas andam com o direito do ser humano de se expressar do jeito que quiser, até mesmo quando a gente não aceita, não gosta, ou eventualmente recebe como ofensivo. O exercício pleno da democracia é admitir os contrários, inclusive quem não concorda com ela. Não me cabe avaliar o que andam dizendo, opinando, comentando, xingando, julgando e decidindo, apenas ressaltar o momento político do dia 6 de outubro.

As urnas, em Porto Alegre, vieram com 30% eleitores a menos. Em maior ou menor grau em outros tantos municípios. Triste abstenção? Falta de interesse? Decepção com a coisa pública? Ausência de apetite pro debate e prá participação do exercício da cidadania? Cada um que julgue, fico com o recado do bar: “bebidas, vidas e opiniões”. Melhor que todos tivessem manifestado no voto o seu aplauso ou a sua indignação. .

É no auge do embate das ideias, das discussões, do exercício do contraditório que as soluções se apresentam. Nem sempre as que queremos, mas o mundo se faz sonhando com utopias e encontrando o possível. Estamos a poucos dias do segundo turno, tanto aqui na nossa Capital, como em outros tantos municípios, mas quer do agrado ou desagrado já escolhemos a imensa maioria prefeitos e vereadores dos nossos mais de 5 mil municípios brasileiros.

Não é um chamamento, todos, direita, centro e esquerda, maiorias e minorias, querem o bem comum, cada um com o seu olhar, com suas certezas, convicções, enfim. Todos, são todos, até com eventuais cadeiradas, bueno, há quem defenda e quem execre, mas votem. Podemos fazer deste momento silêncio, ausência, um desastre ou praticar o que está no letreiro do bar: vidas, bebidas e opiniões – CONVIVAM. Conversar é versar com alguém.

Imaginem naquele bar Ariano Suassuna, sempre ele, sua inquietude e irreverência. Pelas tantas, serve para a questão do momento, votar ou não votar, ele refere conversa entre brasileiros sobre um encontro. Se o convidado responder que vai, pode ir ou não, se disser que fará tudo pra ir, pode ter certeza que ele não irá.

Já passei o tempo de lidar com telefone sem fio, uma brincadeira do tempo de crianças, também não tenho lá grande simpatia pelas redes sociais, mas elas estão aí e, na maioria das vezes, me dizem o que já sei ou querem me impingir o que não quero aprender, mas não vou a tanto e já que não há mais comícios, sentem na mesa do bar e discutam a vida, expressem suas opiniões, defendam uma cidade melhor, se apaixonem, levantem a voz, bebam, convivam, mas votem, só não deem causa a ironia do Mestre Suassuna. Sejam presentes, se curvem ao resultado das urnas e convivam. Sem chover no molhado, estamos todos no mesmo barco, se ele afundar, afundamos todos.

(Eduardo Battaglia Krause é advogado e escritor)

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